
CONTOS DE LIAH
CONTOS DE LIAH

Os 'Contos de Liah' são histórias que - para entendê-las de forma perfeita, faz-se necessário ler desde a primeira (no entanto, é possível compreender cada conto / cada episódio). A nostalgia da personagem molda o coração do leitor... e a cada leitura é um passo a mais que se quer ter...
EM PLENO VOO (Episódio 14)
Percebeu que o tal cavalheiro parecia familiar.
Liah tentou segurar a sua língua, pois passaria cerca de dezoito horas dentro do avião até chegar ao Aeroporto Internacional Elefthérios Venizélos, em Atenas.
Ela observava atentamente o cavalheiro, imaginando de onde o conhecia.
Durante o trajeto, sua mente estava elaborando como poderia abordar e fazer as perguntas que fervilhavam no seu cérebro.
Olhava incessantemente para ele. Um rapaz jovem, bonito, elegante, contudo, calado e absorto em seus pensamentos.
Liah conjecturava dentro de si ('nem mesmo em pleno voo, minha mente inquieta não consegue se conter').
Era um momento em que deveria relaxar e simplesmente curtir a viagem, mas qual, a ideia fixa de que já conhecia o rapaz de algum lugar, não saía de sua mente.
Colocou fones de ouvido e tentou se acalmar e mesmo assim, já estava formulando as indagações que faria ao tal "cavalheiro".
A comissária de bordo se aproximou e perguntou a ambos se aceitariam tomar um suco ou chá acompanhado de um lanche.
O rapaz, educadamente, esperou que Liah respondesse a ela, distraída com os fones, nem percebeu o que estava acontecendo ao seu redor.
Então, o jovem rapaz tocou suavemente seu braço e ela retirou os fones e começou a olhar aqueles olhos de um azul profundo...
A comissária novamente refez a pergunta, o rapaz se dirigiu a Liah e disse:
- Senhorita, o que vai querer?
Ela sorriu e imaginou ('esses olhos azuis parecem o oceano que me aguarda!!!').
Liah pediu um suco de pêssego para acompanhar o lanche e o rapaz pediu apenas um chá gelado.
Ela mais que depressa pensou ('a oportunidade perfeita para iniciar uma conversa').
Enquanto estavam degustando cada qual o seu pedido, nossa "querida", com seu ar delicado e descontraído, olhou para o jovem e quando finalmente tomou coragem para iniciar suas indagações, eis que...
LIAH R. (Edição nº 44, Tabloide "ARAÇATUBA E REGIÃO", PDF, de 16/08/2025)
A VIAGEM (Episódio 13)
Então se lembrou da promessa que fez a si mesma de esquecer o passado, seguir em frente e não focar nos "mistérios" que estavam rondando sua vida. Se deitou e adormeceu.
Enfim, chegou o dia de sua viagem. O roteiro: ilhas gregas, um sonho de infância realizado. Liah sempre almejou conhecer a Grécia, com suas ilhas paradisíacas, monumentos históricos e a culinária mediterrânea.
Suas malas prontas, passaporte e a ansiedade costumeira, pois iria além de descansar o corpo, nutrir a alma com belas paisagens e locais singulares.
Desceu as escadas com sua bagagem e com um ânimo notável.
Por vezes sorria sem motivos e dizia para si mesma ('voltarei renovada após a viagem') e estava disposta a ser feliz, independente do que passou e das circunstâncias que sempre se apresentavam a ela de forma inusitada. Chamou um carro de app, trancou toda casa e deixou as chaves nas mãos de uma amiga que iria regar suas plantas e cuidar de tudo enquanto Liah seguia em viagem.
Partiu para o aeroporto, deveras alegre como uma adolescente que iria para Disneyland. A pressa era tanta que chegou com uma hora de antecedência por medo de perder o voo.
Retirou as bagagens do carro e foi até o balcão da companhia aérea para realizar o check in, visto que não conseguiu fazer online.
O tempo parecia passar lentamente e Liah já estava imaginando o quão incrível seria sua aventura no continente, conhecer o país que tanto desejou. Os hábitos, a cultura, os mitos que havia lido sobre e estudado na faculdade.
Tudo isso, graças ao seu esforço em estudar, se qualificar e nunca desistir de concretizar seus sonhos.
Tudo parecia perfeito. A ansiedade fazia seu coração saltitar, mas a sensação era boa.
Ouviu o último chamado e foi até o portão de embarque. Olhou para trás e sorriu se despedindo, quem sabe de um passado triste, desafiando o futuro que a aguardava nas ilhas gregas.
Se sentou na poltrona e sorriu novamente, com um sentimento de satisfação imensa por tudo que estava acontecendo.
Foi quando um cavalheiro de porte elegante pediu licença, sentou-se ao seu lado e ela percebeu que...
LIAH R. (Edição nº 43, Tabloide "ARAÇATUBA E REGIÃO", PDF, de 09/08/2025)
PENSAMENTOS PERSISTENTES (Episódio 12)
E, com estranheza, pois não estava esperando por ninguém.
Chegou até o portão, um carro de entregas, o entregador a aguardava com uma cesta repleta de flores de jasmim.
Liah sentiu seu coração pulsar num ritmo descompassado e as velhas indagações retornaram.
"Perguntas sem respostas", pensou. Recebeu a cesta, assinou a entrega e sem titubear, procurou entre as flores, um cartão para que assim aquietasse sua alma. Lá estava o cartão. Lacrado com um selo de escuderia timbrado no verso. Por certo, no conteúdo haveria o nome do remetente, suas motivações, explicações...
Entrou em sua residência, se sentou na sua cadeira favorita de frente a janela, sentiu o aroma das flores frescas, abriu o envelope e começou a ler, com uma emoção latente que enebriava seus pensamentos e nutria seus olhos com densas lágrimas.
Há tempos estava decidida a não mais sofrer, encarar a realidade e seguir em frente. Todavia, o passado persistente, a atormentava novamente.
Pousou a cesta no chão ao seu lado e deu continuidade à leitura:
"Minha doce e bela dama apreciadora de Passacaglia de Händel, peço lhe mil perdões por não a recebera de pronto em minha residência. Era um dia desfavorável, mas soube de seu interesse no toque de meu caro e velho amigo piano. Creio que mui brevemente terei o inenarrável prazer em desfrutar de sua companhia.
Aceite essas singelas flores como forma de agradecimento e desculpas.
Até logo, assim espero..."
Liah ficou atônita com a cesta, as flores e principalmente com o cartão, bem escrito, pautado com ternura e extrema educação, porém, sem a assinatura de seu remetente.
Diante de todas essas emoções, se turbou a ponto de sentir suas forças irem embora.
Mesmo assim, respirou fundo e tentou se acalmar.
Na sua mente turbulenta, indagava-se: "Seria a mesma pessoa que desde o início, mandava-lhe as cestas de flores de jasmim? Qual seria a motivação? Por que não se revelava ou assinava os cartões?" Tantos questionamentos, um mistério surreal.
A noite despontava, com a lua a recepcioná-la, exuberante no céu e Liah continuava a pensar nas possibilidades e probabilidades que seu recebido lhe causou.
Subiu as escadas rumo ao seu quarto, para se deitar, dormir e digerir sobre tudo.
No silêncio da noite, quando tudo estava calmo, um pensamento lhe ocorreu, então...
LIAH R. (Edição nº 42, Tabloide "ARAÇATUBA E REGIÃO", PDF, de 02/08/2025)
EXPECTATIVA (Episódio 11)
Então, algum tempo de espera...
Luci retornou com seu habitual e cortês sorriso, dizendo que naquela manhã não seria possível Liah ser recebida, porém, poderia deixar seu contato, número do telefone ou endereço para que o mais breve tivesse a oportunidade de conhecer o/a morador (a) ou melhor, as mãos habilidosas ao piano.
Liah agradeceu e disse morar na mesma rua, apenas alguns metros de distância e informou o número de sua residência para Luci.
Se despediu e foi intrigada para sua aula de spinning. Exercícios, boa alimentação, vida saudável, tudo isso estava nos planos de "vida nova", adotado por Liah.
Entretanto, a curiosidade estava consumindo seus pensamentos e o porquê de não poder ser recebida no sobrado.
"Alma inquieta", ávida por viver todas as experiências de uma só vez e em "seu tempo", assim ela era... Dócil e indomada, paciente e resoluta, às vezes tempestade, outras, calmaria.
Chegou a tempo na academia, suas amigas, já posicionadas em bicicleta ergométrica, prontas para a aula. Durante uma hora realizou seus exercícios, com o pensamento fixo na lembrança do toque do piano e na extrema curiosidade em descobrir o mistério que havia na residência.
Voltou para casa exausta, porém, mais tranquila. Subiu as escadas direto para o quarto, se despiu e foi ao banho... Água tépida, velas aromáticas, sais de banho; chuveiro, após, banheira com espuma perfumada com aroma de calêndula e lima da Pérsia.
Esse era o seu momento de relaxar, esquecer os problemas, reorganizar seus pensamentos. Mesmo que de contínuo, o piano vinha sutilmente fazê-la lembrar-se de algo que não sabia bem o que era. Liah permaneceu imersa nas águas perfumadas da banheira e em seus pensamentos por algumas horas.
A tarde chegou sorrateira, Liah vestiu algo confortável, desceu até a sala, onde havia uma estante com diversos volumes, livros históricos e romances. Liah amava ler, mergulhar no mundo literário, onde viajava sem sair do lugar ...
(Aliás, sua viagem estava se aproximando).
Selecionou o livro, pediu uma refeição pelo app e enquanto fazia a leitura, aguardava seu pedido chegar. Sua refeição chegou, se alimentou e continuou a ler, mesclando a história com as lembranças.
Mente que não para...
Até que ouviu a campainha tocar novamente e...
LIAH R. (Edição nº 42, Tabloide "ARAÇATUBA E REGIÃO", PDF, de 02/08/2025)
UM SOM ENVOLVENTE (Episódio 10)
E, ao tomar essa decisão, Liah encerrou um ciclo de sofrimento.
Algum tempo depois, já com outras metas e planos, suas férias no trabalho, enfim chegaram.
Estava empolgada, pois guardou tudo o que representava seu passado no relicário.
A grande convicção: "estou viva, com saúde e determinada a ser feliz".// Essa era sua meta de vida.
O sol veio rompendo mais um lindo amanhecer. Era sábado e na segunda-feira subsequente, já estava marcada sua viagem.
Liah despertou, desceu as escadas, foi até a cozinha preparar seu breakfast.
Estava faminta e ansiosa por causa da viagem. Pães, ovos, frutas, um delicioso suco de frutas, enfim, tudo para iniciar um dia esplendoroso. Se sentou à mesa e se alimentou.
Enquanto degustava seu desjejum, novamente o som do "piano" entrou suave pela janela. "Ah... que maravilha ouvir esse toque, uma gentileza aos meus ouvidos (assim ela pensou).
Mas, de onde viria esse som? Como da outra vez, ainda não sabia.
Ficou alguns momentos em absoluto silêncio.
Liah estava vestida com sua roupa de treino. Como de costume, iria correr, se exercitar.
Tudo parte de um plano de vida nova, saudável e se der certo, um romance. Abriu o portão, saiu e foi percorrendo a rua em busca do som do "piano".
Quase no final, precisamente na esquina, o som ficou mais audível. A casa da esquina, quase sempre fechada, mas com a janela da sala de estar entreaberta, cortinas ao vento e o toque do piano, "passacaglia".
Liah se sentiu extasiada ao ouvir.
Por certo, não conhecia os moradores dessa residência. Um lindo sobrado, com jardim repleto de hortênsias.
Sua curiosidade a levou até lá, porém, não satisfeita, com o espírito indomável que possuía, resolveu tocar a campainha e se apresentar como vizinha e apreciadora da obra de Händel.
Após o segundo toque, uma senhorita uniformizada, a atendeu com um sorriso amistoso nos lábios. Tratava-se de Luci, que exercia suas funções de secretária do lar.
Liah se apresentou, pediu desculpas, mas disse que gostaria de falar com o/a proprietário da residência. Luci, novamente sorriu e pediu que ela aguardasse um momento, então...
LIAH R. (Edição nº 41, Tabloide "ARAÇATUBA E REGIÃO", PDF, de 17/07/2025)
NOVOS RUMOS (Episódio 09)
Ou então acabaria enlouquecendo.
Após ler todo o conteúdo da carta, Liah estava resoluta. Sua vida havia passado por várias modificações. Porém, no quesito "amor", ficou estagnada por anos.
Liah era jovem, dinâmica, trabalhadora e independente. Mesmo diante de todos esses adjetivos, ela sentia que algo fazia uma falta significativa: "viver um grande amor". Voltar a sentir seu coração vibrar...
Sua memória repleta de lembranças, implorava por sentimentos, emoções e prazeres. A vida precisava seguir seu curso.
Ela não poderia, aliás, não deveria se ater somente a coisas passadas que a perturbavam e não lhe davam um viço no olhar, apenas tristeza, vazio, angústia e melancolia.
O final da carta, um tanto enigmático, só iria plantar as mesmas dúvidas insanas.
Reabriu o relicário, retirou os objetos da caixa de veludo de cor rubra. Olhou fixamente, acariciou como se os objetos tivessem vida, respirou fundo e, a última lembrança, a fez verter lágrimas.
Liah, de posse da tríade de objetos: um solitário, um porta-alianças de diamantes e uma aliança, símbolos de um amor do passado e de uma dor consonantal... Eram esses os objetos que havia guardado por anos e que estavam acompanhados de uma carta, "a última carta", a carta de despedida.
Às vésperas da consumação do amor avassalador que vivera (um término sem uma explicação que ela considerasse fazer sentido). Na carta, palavras desconexas, melancólicas e a despedida final.
Toda cerimônia estava preparada. Flores, alimentos, convidados... Entretanto, com o recebimento da carta, ao invés de alegria infinita, um "luto", sem corpo, sem enterro, mas o coração gritava: por quê? por quê?
Seu amado se despedia e lhe dizia que iria partir.
Iria para outro país, para um continente distante...
Liah jamais entendeu.
Era amada, desejada, idolatrada.
Porém, às vésperas do enlace, uma carta, selou seu destino. Ela já não suportava viver daquela forma. Então tomou a decisão que mudaria o rumo da sua história...
LIAH R. (Edição nº 41, Tabloide "ARAÇATUBA E REGIÃO", PDF, de 17/07/2025)
O PIANO (Episódio 08)
Esse som era doce melodia conhecida.
Porém, sua vontade de permanecer deitada, apenas acompanhada por seus pensamentos, era maior. A tristeza havia tomado conta de todo seu ser. Lembranças, pensamentos, saudade... Um misto de sentimentos.
Ela sabia que de nada adiantaria permanecer nesse estado letárgico. Novamente a doce melodia tocava.
Logo identificou: era uma sinfonia (Liah amava música clássica). Ainda mais tocada no piano. Tratava-se de "Passacaglia", de Friederich Händel. Essas notas penetraram o âmago do seu coração.
Se levantou, saiu do quarto, desceu as escadas, procurando de onde vinha o som do piano. Liah conhecia alguns vizinhos, mas nunca soube que dentre eles havia alguém que tocasse piano tão divinamente. Ainda mais essa composição tão singular e especial para ela. Foi até a varanda para ver se conseguiria identificar o local exato.
Os primeiros raios de sol vinham rompendo a manhã. Era uma manhã de domingo, calma, tranquila, sem o alvoroço dos dias cotidianos. A quietude e o silêncio só foram quebrados pelo toque do piano em toda sua plenitude.
Após esse breve momento, parou de ouvir e se lembrou dos objetos que deixou no quarto, sobre a cama e retornou.
Na noite passada, mal conseguiu descansar...
Subiu novamente as escadas em direção ao quarto. Tudo estava lá. E Liah, de pronto, pegou as cartas. Os outros objetos foram cuidadosamente colocados de volta no relicário.
Suspirou, pegou as cartas e pensou de si para si: "Preciso reler, preciso recordar e principalmente, preciso superar tudo isso."
Abriu o primeiro envelope, dentro dele, uma carta escrita em folha de seda, já esmaecida pela ação do tempo.
Percorreu linha por linha...
Seu coração, mais calmo e sua mente mais tranquila, enfim raciocinou como uma verdadeira mulher de fibra, que havia passado por muitas situações e pensou que não poderia permanecer presa a um passado doloroso.
Precisava esclarecer suas dúvidas e saber se de fato deveria encerrar esse episódio de sua vida ou então...
LIAH R. (Edição nº 15, Tabloide "O PORTAL", PDF, de 06/07/2025)
O OBJETO (Episódio 07)
Pode um relicário ser grande o suficiente para guardar tamanha lembrança?
Esse objeto permaneceu lá (parte de uma história inconclusiva).
Objeto tal, que causa ao mesmo tempo, dor, nostalgia e causa (ainda causa) uma saudade imensa.
Dentro do relicário branco, cravejado de minúsculas pérolas, como se fosse "a arca do tesouro", uma pequena caixa de veludo, de cor rubra, tão macia e delicada.
Sobre a tampa da pequena caixa, uma escuderia impressa em fio de ouro. Por dentro, forrada por um tecido branco refinado e no seu interior, uma tríade de objetos.
Liah respira fundo nesse momento. Um longa-metragem passa pela sua mente. Os olhos já marejados e uma ínfima lágrima cai lentamente. Talvez essa seja a lembrança mais dolorosa que seu coração guardou.
Princípio de outono, lá fora a lua cheia parecia contemplar aquela menina-mulher com seu objeto nas mãos. A casa parecia mais vazia do que nunca. Um vento fresco soprava. Cheiro de almíscar no ar.
Diante de si: a caixa, as lembranças, as lágrimas... Tantas indagações. Tantos questionamentos. Todos sem respostas.
Retirou cuidadosamente os três símbolos, sim, símbolos de um passado marcado por uma dúvida persistente. Enxugou as lágrimas com um lenço também retirado do relicário. Lenço este de seda ibérica, na cor rosa.
Ainda encontrou cartas diversas, com a mesma letra forte e bem desenhada do cartão que recebeu com a cesta de flores de jasmim. Pensou, se de fato, deveria reler tais cartas.
A dor dilacerante que entrecortava as paredes do seu coração, quase não permitiu dar prosseguimento à leitura.
De posse de todos os objetos: caixa, lenço e cartas, se deitou aninhada e solitária. O sofrimento desse instante, quase se transformou em dor física.
Os soluços foram cessando, um cansaço latente surgiu e Liah, diante das memórias e dos objetos, adormeceu quase raiando o dia.
De repente, um som veio a despertar, porém...
LIAH R. (Edição nº 14, Tabloide "O PORTAL", PDF, de 29/06/2025)
UMA NOITE MEMORÁVEL (Episódio 06)
No entanto, ao chegar até a porta principal, notou que havia novamente uma cesta de flores de jasmim. E entre as flores, também havia um cartão.
O perfume inebriante das flores em meio àquela noite tranquila, dava um toque de saudade e nostalgia.
Pegou a cesta, colocou seus pertences sobre a mesa e se sentou para ler o conteúdo.
Uma letra forte e bem desenhada.
Traços masculinos (assim pensou).
Antes de ler, sua mente divagou em memórias, olhou fixamente o papel.
Imaginava ter ali através das palavras, o elucidar do mistério.
Iniciou a leitura:
"Minha doce e preciosa Liah, espero encontrá-la bem.
Desculpe o tempo da espera, mas foi necessário.
Muito em breve nos encontraremos.
Com amor..."
Não, não pode ser possível...
Essa letra ela conhecia.
Será mesmo?
Depois de tantos anos...
Seu coração saltou no peito.
Uma mistura de dor, felicidade, contentamento e agonia.
As memórias cada vez mais vivas, indicavam que o autor das palavras era familiar.
O tempo passou, mas jamais se esqueceu...
Aliás, quem conseguiria esquecer de algo tão avassalador e marcante?
Nem o tempo, nem a distância puderam aplacar tão sublime sentimento.
Subiu as escadas rumo ao seu quarto.
Em frente ao seu toucador, na segunda gaveta, lá estava um delicado relicário branco, cravejado de minúsculas pérolas em sua tampa.
Tirou uma chave dourada que se encontrava dentro do porta-joias e cuidadosamente abriu.
Foi como se um filme passasse na sua mente.
Seu coração, numa cadência descompassada, frente a tudo o que via nesse relicário.
Há tempos não verificava o que o mesmo continha.
Talvez por medo de não suportar ou quem sabe, uma vã tentativa de apagar as lembranças.
Então, finalmente chegou até o objeto que procurava e encontrou bem mais do que ele...
LIAH R. (Edição nº 13, Tabloide "O PORTAL", PDF, de 22/06/2025)
FUGAZ (Episódio 05)
Ao atravessar a rua, algo aconteceu.
De repente sentiu uma sensação estranha, como se tudo ao seu redor estivesse em outra dimensão...um lapso do tempo, quem sabe?
Essa sensação a deixou confusa.
O tempo parou, tudo perdeu o movimento.
As pessoas pareciam petrificadas, o vento suave que soprava, instantaneamente cessou.
Como se ela fosse levada a um lugar longínquo, no meio de um deserto ou um lugar esquecido, onde não havia modo de escapar.
Calafrios nas costas e a total perda da mobilidade.
Onde sua curiosidade em descobrir o mistério do tal "cavalheiro" a levou?
Conseguiu com muito esforço fechar os olhos e ao abrir novamente, tudo voltou ao normal.
A noite fresca, as luzes, as pessoas andando de um lado para outro.
Olhou para onde o misterioso "cavalheiro" estava e mais uma vez... (sim, desapareceu).
Seus pensamentos confusos e desordenados não conseguiam extrair o que de fato ocorrera.
"Como é possível? Tão perto e ao acaso, sumir sem deixar rastro? " - pensou consigo mesma.
Estaria tendo alucinações?
Por ora, não havia o que fazer, senão voltar ao aconchego do seu lar e tentar dormir.
Emoções demais para uma só noite.
Foi o que fez. Entrou em sua casa, deixou tudo como estava: janelas abertas, chá de melissa na xícara de porcelana inglesa esfriando, cadeira predileta e as flores de jasmim.
Dormiu um sono profundo.
Na manhã seguinte, acordou bem cedo, disposta e foi trabalhar.
O dia parecia infinito, as horas custosas a passar.
Por certos momentos, a lembrança do que ocorreu na noite anterior preenchia sua mente.
Expediente encerrado, alguns colegas de trabalho a chamaram para um happy hour.
Resolveu ir, afinal, precisava relaxar e esquecer o episódio.
O local escolhido foi um bistrô.
Entre risos, conversas informais e o ambiente acolhedor, por algumas horas, conseguiu desvencilhar seus pensamentos sobre o tal "cavalheiro".
Após o final do petit comité, todos retornaram aos seus respectivos lares.
Ao chegar em casa pensou: "Estive tão perto de solucionar o mistério".
No céu, o brilho da lua cheia entregava um espetáculo sideral.
Abriu o portão como de costume, lentamente caminhava rumo às escadas da varanda pouco iluminada.
No entanto, ao chegar até a porta principal, notou que...
LIAH R. (Edição nº 12, Tabloide "O PORTAL", PDF, de 15/06/2025)
A TAL IDEIA (Episódio 04)
Tudo acontece muito rápido, sem aviso, sem precedentes e em certos momentos, pensamentos intrusivos.
Foi num desses "momentos" que ocorreu essa tal ideia...
Mesmo em meio ao caos diário, às vezes insano, outras vezes, certa calmaria, enfim, uma vida com rotina, afazeres, mas com a cabeça cheia.
As horas passando, termina o dia e ela novamente se prepara para voltar ao conforto do seu lar.
Decidida, com coragem e disposta a desvendar o mistério do tal "cavalheiro".
(Tarefa fácil? Óbvio que não.)
Pois entre memórias, lembranças ou apenas relances reais ou irreais, sua história estava sendo vivida.
Saiu apressada, entrou no carro e seguiu.
No trajeto, pausa para comprar flores de jasmim na floricultura favorita...
Por que jasmim? (...) A cesta colocada em sua porta (possivelmente esse seria o ponto de partida).
Sua mente criativa e investigativa, tal como uma "Sherlock Holmes" moderna, que certamente não foi criada pelo escritor "Sir Arthur Conan Doyle" (rsrsrs), mas com essa tal ideia, já borbulhando nos seus pensamentos, iria solucionar todo o mistério.
Comprou um lindo buquê de flores de jasmim e foi para casa.
Estacionou seu carro, entrou com o firme propósito de preparar o mesmo ambiente daquela noite...
Chá de melissa, flores de jasmim, cadeira predileta, janelas abertas, paz e serenidade.
(Cenário pronto) Se sentou, respirou fundo e disse a si mesma: 'Hoje pretendo me recordar de tudo, os mínimos detalhes e não vou me dar por vencida até conseguir'.
Então tomou seu chá, na xícara de porcelana inglesa de bordas douradas, sentindo o suave aroma das flores de jasmim, olhou para a janela e para sua surpresa quem se achava do outro lado da rua?
Ora, o tal "cavalheiro" trajado com elegância e de olhar enigmático...
Sorriu e pensou: "Hoje ele não sairá de minhas vistas, antes que eu possa indagá-lo".
Será mesmo real? Ou tudo não passa do fruto da imaginação?
Tratou de se levantar, correu até o portão e já com as chaves, coração acelerado, mas dessa vez, "ele" permaneceu onde estava.
Parecia esperar por ela.
Ah! Finalmente desvendaria o doce mistério.
Abriu de súbito o portão, mas quando estava atravessando a rua...
O que estaria por vir?
LIAH R. (Edição nº 11, Tabloide "O PORTAL", PDF, de 08/06/2025)
UM OLHAR (Episódio 03)
A noite fora extremamente perturbadora. Sons, ruídos e uma sensação de haver uma presença... O que seria? Imaginação? Fantasia? Ou realmente alguém dentro da casa? Nesse momento, realidade e sonho haviam se fundido num só ritmo.
O ritmo acelerado da cadência do coração, que na sua total ausência de discernimento, seguia exaltado; porém, a coragem falou mais alto. Se levantou da cama, acendeu as luzes e lentamente, pisando delicadamente, passou a percorrer todos os cantos da casa à procura desses ruídos avassaladores.
Desceu as escadas, olhou com cautela e nada encontrou. Abriu as cortinas da sala e através da janela, notou que o dia estava raiando... Deixou os primeiros raios de sol invadirem o ambiente. Parecia trazer luz, cor, saúde... Revigorando as forças para as atividades cotidianas.
(...) Vida que não se cansa de recomeçar!
Na cozinha, o aroma do café coado há pouco, os pães de queijo quentinhos... Lá fora, a melodia inquietante do alvoroço dos pássaros na copa das árvores. Já nem se lembrava da noite pouco tranquila que tivera.
Se sentou na cadeira predileta e observava o burburinho da vizinhança e o "bailar" das folhas secas arrastadas pelo vento no chão. O sol, já majestoso no céu; se apressou, pois estava atrasada para o trabalho. Todos os dias a mesma rotina...
(...) Sempre com pressa nas manhãs, pois se perdera a observar tudo que realmente lhe prende a atenção.
Ao sair, com os livros em uma das mãos, a bolsa semiaberta e as chaves (sempre verificando tudo) pois, por vezes sua desatenção a faz se esquecer de algo.
Do outro lado da rua, o mesmo cavalheiro, de traje elegante e olhar enigmático, fitava profundamente, dando a impressão de que queria lhe dizer algo com o olhar... Ao voltar se para o portão, trancando apressadamente, por alguns instantes lhe deu as costas... Quando deu por si, já não estava mais lá.
Teria sido sua imaginação? Uma memória? Ou o "cavalheiro" havia se esquivado de tão esperado encontro?
Olhou o relógio e percebeu que era hora de ir para sua rotina, seu trabalho, seus afazeres diários... Entrou no carro e partiu com a cena estarrecedora: a imagem do "cavalheiro", já fixada em seus pensamentos.
Assim foi decorrendo o dia, até que em determinado momento, sem nenhuma excitação, parou tudo que estava fazendo... E uma ideia lhe ocorreu...
LIAH R. (Edição nº 10, Tabloide "O PORTAL", PDF, de 01/06/2025)
O MISTÉRIO (Episódio 02)
Desde que adentrou o portão de sua casa, percebeu algo diferente no ar. Notou uma cesta repleta de flores de jasmim, cuidadosamente colocada no alpendre, diante da porta de entrada.
O doce perfume exalado pelas flores, ainda frescas e recém colhidas, tomava conta do ambiente. Com cuidado, abriu a porta principal, meio atônita, recolheu a cesta, procurando talvez um cartão ou algo que identificasse o emissário. Mas qual nada, nenhum vestígio.
Então se sentou em sua cadeira predileta, com as flores diante de si e pensou. (...)
Nesse exato momento, uma imensidão de pensamentos vieram à tona. Lembranças há muito tempo guardadas na gaveta das mais caras memórias.
Novamente o coração voltando a bater descompassado, numa mistura de êxtase, contentamento e saudade.
Cerrou os olhos, deixando se levar a um tempo específico e particular, onde não havia espaço para a melancolia. Vislumbrava a silhueta de um homem caminhando a passos largos e fortes, trajado com elegância, se destacando dos demais. Veio em sua direção, esboçou um sorriso franco e um olhar enigmático, a deixando encabulada...
Sob essas memórias, de olhos cerrados, sentindo o aroma das flores de jasmim, um vento sorrateiro invadiu a janela, como se a quisesse despertar desse transe passional.
Sozinha, em sua sala de estar, ainda mergulhada em suas lembranças, comovida com esse gesto de carinho, mesmo sem ter o conhecimento do autor de "tal delicadeza", sua alma se moveu de uma profunda ternura.
Na mesa ao lado, sua xícara de chá, de porcelana inglesa, era sua única companhia. Esse momento fascinante e ao mesmo tempo incógnito, trouxe um certo alento à sua alma.
A solidão já não era tão amarga e as suaves memórias do "cavalheiro misterioso", nutriam seus pensamentos de uma maneira incólume.
Tomou seu chá de melissa.
Se sentindo exausta, atentou para o relógio, era tarde, então se dirigiu até o quarto, se despiu, colocou algo confortável e se deitou.
Ainda procurando nas gavetas de sua memória, identificar o nome do referido cavalheiro. (...)
"Como se não soubesse..."
Pousou a cabeça no travesseiro, na intenção de dormir, mas...
O mistério ainda continua...
LIAH R. (Edição nº 09, Tabloide "O PORTAL", PDF, de 25/05/2025)
O QUE VAI NO CORAÇÃO DE UMA MULHER (Episódio 01)
Final de tarde, sol se pondo e ali estava ela... Sentada no banco, absorta em seus pensamentos.
O cenário: uma praça repleta de árvores, colorida pelas flores que delas caíam. Crianças brincando, fazendo algazarra... De repente algo chamou sua atenção: o som afinado de um violino, não muito distante do lugar onde ela se encontrava.
Em meio a agitação dos transeuntes, conversas animadas e as brincadeiras pueris das crianças, esse som magnífico e envolvente começou a ganhar espaço... Trazendo uma atmosfera diferente, que se destacava de tudo o mais.
Então, uma forte lembrança tomou conta de seus infindáveis pensamentos...
(...) Por onde andaria? Referindo se a um "amor" do passado. Alguém que havia lhe furtado sutilmente o coração.
Ela então, ao ouvir a doce melodia, sentiu seu coração bater em compasso acelerado. Questionava os porquês, os talvez; enfim, o motivo de ter chegado ao término, algo que lhe era tão caro...
Mesmo ela sabendo a resposta, respirou fundo e continuou sua contemplação: cenário, melodia, memórias...
Aos poucos todo ruído foi cessando, a noite já se descortinava e um silêncio estarrecedor tomou conta do lugar.
Mas as lembranças continuavam a povoar sua mente. Ao se dar conta, encontrou se na mais profunda solidão. Não percebeu que as horas correram...
Calmamente levantou-se e a passos lentos, seguiu seu destino.
Toda essa "agitação", seguida de uma profunda e cálida tristeza, a fez refletir e quanto mais caminhava, mais fortes as imagens se formavam dentro do seu ser. Talvez algum dia... Quem sabe?
Por hora, acalmou-se dizendo de si para si: tudo passa... Ou não...
Esboçou um leve sorriso, acalentando a doce menina, "viva", dentro de sua alma de mulher. Insondáveis os mistérios que habitam no coração feminino.
Finalmente chegou em sua casa, abriu o portão e sentiu novamente aquela "saudade", que continuamente vinha lhe incomodar.
Notou algo diferente no ar... Mas esse mistério ficará para outro dia ...
LIAH R. (Edição nº 08, Tabloide "O PORTAL", PDF, de 18/05/2025)