FERNANDA COLLI

FERNANDA COLLI

DE DENTRO PRA FORA

Prezado Leitor, você terá contato semanalmente com temas sobre 'a vida, razão e sentimentos', com a autora Fernanda Colli.

Fernanda Colli é Arte Educadora, professora, pesquisadora, escritora e mãe. Membro da Academia Araçatubense de Letras, é atualmente presidente da comissão Infantopedagógica da IOV Brasil. Com um olhar sensível para os sentimentos e o comportamento humano, estreia sua coluna no jornal / site, onde escreve sobre sentimentos, cura, comportamento e os caminhos sutis que conduzem ao florescimento interior.

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FOLHETIM 'ARAÇATUBA E REGIÃO' - DIA 19/07 - EDIÇÃO Nº 41

RESPEITO SEMPRE EM PRIMEIRO LUGAR

Vivemos em tempos de opiniões fortes, posicionamentos declarados e afetos seletivos. Eu mesma posso não gostar de determinada pessoa, não ir com a cara dela, não querer conviver, chegar perto ou sequer compactuar com sua arte, suas ideias ou seu modo de viver.

Mas há algo que vem antes de tudo isso: o respeito como ser humano é obrigatório.

Respeitar não significa concordar. Respeitar não significa apoiar. Respeitar significa apenas reconhecer a humanidade no outro, que existe independentemente do que ele faz, pensa ou produz.

Além disso, precisamos falar sobre a responsabilidade social de nossas palavras, atitudes e posicionamentos. Disseminar ódio, espalhar intrigas, criar conflitos desnecessários – tudo isso é um desserviço à sociedade. Não contribui para nada além de mais violência e ignorância.

Antes de apontar, criticar ou humilhar, precisamos nos perguntar: o que estou fazendo pela humanidade? Precisamos primeiro nos autoconstruir, tornarmo-nos seres do bem e fazer o bem para o outro. Só assim estaremos em condições de emitir opiniões que realmente agreguem algo ao mundo.

Na verdade, quem opta pelo contrário – pela maldade gratuita, pela fofoca destrutiva, pela intriga – não passa de pessoas ignorantes, que precisam ler, estudar e vivenciar muito mais antes de abrir a boca. E quem aplaude essas atitudes também precisa estudar, e muito, antes de bater palmas para discursos vazios e agressivos.

Posso não gostar. Posso não seguir. Posso não aplaudir. Mas não posso desrespeitar. Porque o respeito sempre vem em primeiro lugar – e quem não entende isso ainda está muito distante de qualquer evolução como ser humano. (12/07/2025)


O PESO DE DAR CONTA DE TUDO

Vivemos em uma sociedade que insiste em cobrar das mulheres um desempenho sobre-humano. É como se houvesse um cronômetro invisível, rodando o tempo todo, monitorando se ela está dando conta — da casa, dos filhos, do trabalho, do corpo, do humor, da vida. E, paradoxalmente, quem vive tentando dar conta de tudo, o tempo todo, corre o risco de atrair justamente quem não dá conta de nada.

Ser multitarefa não é uma escolha. Foi uma exigência cultural naturalizada ao longo de gerações. A mulher que organiza a vida de todo mundo, que antecipa problemas, que resolve, que cuida, que se desdobra, muitas vezes acaba cercada por quem se acostumou a não dividir a responsabilidade — seja em casa, no trabalho ou nas relações.

O peso é real. E vem de todos os lados. Se é mãe, é julgada. Se trabalha demais, é julgada. Se se dedica à casa, é julgada. Se cuida do corpo, é fútil. Se não cuida, é relaxada. A mulher perfeita, segundo os padrões inalcançáveis, deve ser mãe presente, profissional de alto desempenho, esposa impecável, amiga disponível e, ainda, carregar no corpo os traços de quem mal tem preocupações — magra, jovem, descansada, plena.

É uma equação impossível, mas que ainda assim é imposta diariamente, com olhares, comentários, manchetes e, muitas vezes, com o próprio silêncio. A sobrecarga mental feminina não é mimimi, não é vitimismo. É estatística. É saúde pública. É uma urgência social.

Falar sobre isso é mais do que necessário. É um convite — ou melhor, um alerta — para que a responsabilidade da vida, da criação dos filhos, do cuidado, do trabalho e do afeto seja, de fato, dividida. Porque quem cuida da conta de tudo o tempo todo não aguenta para sempre. E nem deveria. (07/07/2025)


SOMOS O QUE PODEMOS SER

Vivemos na era do desempenho absoluto. Somos pressionados, desde cedo, a sermos o que "devemos ser": filhos exemplares, estudantes perfeitos, profissionais incansáveis. Mas há uma pergunta muito mais profunda que se esconde por trás dessas cobranças: afinal, somos o que querem que sejamos ou apenas o que podemos ser?

Ao longo da história, o ser humano se orgulhou de superar limites – físicos, tecnológicos e emocionais. Descobrimos curas, exploramos oceanos, pousamos na Lua e estamos perto de chegar a Marte. Mas, enquanto indivíduos, somos apenas aquilo que nossas forças, condições e histórias nos permitem. Isso não significa acomodação, mas reconhecimento da realidade. Um corredor pode treinar para alcançar sua melhor marca, mas jamais ignorará os limites naturais de seu corpo. Da mesma forma, um trabalhador pode se dedicar ao máximo sem, contudo, negar sua saúde mental ou dignidade.

Aceitar que "somos o que podemos ser" não é desistir de crescer; é ter clareza sobre as próprias capacidades, vocações e, sobretudo, o tempo necessário para florescer. Em um mundo que exige velocidade, muitas vezes o mais revolucionário é cultivar a paciência de ser, no presente, o melhor possível – e não o que é imposto como ideal inalcançável.

Por fim, ser o que podemos ser também significa reconhecer o outro: cada pessoa carrega histórias, dores e batalhas invisíveis que determinam quem ela consegue ser hoje. Mais compaixão e menos julgamentos construiriam um caminho social mais digno e humano, no qual ninguém seja definido apenas pelo que aparenta, mas valorizado pelo que é capaz de se tornar.

Em tempos de pressão e imediatismo, que saibamos respeitar nossos limites e, ao mesmo tempo, sonhar com a próxima etapa. Porque, no fundo, seremos sempre isso: o que podemos ser – hoje, amanhã e em cada novo recomeço. (02/07/2025)