
GIULIANI CAMARGO
GIULIANI CAMARGO

ROMANCE - O QUE AS SOMBRAS ESCONDEM
Prezado Leitor, você terá contato semanalmente com um capítulo do romance 'O que as sombras escondem', da autora Giuliana Camargo, voltado para a temática 'Suspense / Terror'.
Giuliani Camargo, 32 anos, de Araraquara SP, casada, mãe da Ísis. Ama ler, apaixonada por suspense e terror. Fã de escritores como Sidney Sheldon, Stephen King, Bram Stoker, Rafael Montes... Entusiasta da escrita e se perde nas ficções sobre fantasmas, bruxas, lobisomens, vampiros e demônios.
-- Acompanhe de perto...
FOLHETIM 'ARAÇATUBA E REGIÃO' - DIA 19/07 - EDIÇÃO Nº 41
CAPÍTULO 03 - SEÇÃO DE FOTOS COM OS MORTOS
Em 26/07.
CAPÍTULO 01 - PARALISADA
Eram 3:33 da madrugada quando Alice acorda com falta de ar, sem conseguir se mexer e com seu pijama encharcado de suor. Estava em outra paralisia do sono, mas desta vez ela estava mais consciente, pois nas ocorrências anteriores ela sempre tinha a perda dos sentidos primários e ficava encarando somente o teto, sem reação, sentindo somente o medo.
Criando coragem para mover os olhos, Alice percebe a atmosfera muito mais sombria do que o normal, o cinza da escuridão estava acompanhado de uma nuvem fantasmagórica e a temperatura estava consideravelmente baixa, fazendo com que seus dedos tremessem. Reparou que no canto esquerdo do quarto havia um cabideiro com roupas de frio penduradas e um chapéu no topo, dando vida a uma silhueta de um homem, mas isso não se comparava com os grandes olhos amarelos que a observava aos pés da cama, como se estivesse engatinhando a criatura começa a subir na cama, que afunda com seu peso, se contorcendo até chegar ao rosto de Alice.
Sem ar, Alice tenta gritar, mas a criatura tapa sua boca com suas mãos compridas e gélidas, então tudo desaparece e Alice acorda com o sol da manhã em seu rosto e sua mãe batendo na porta dizendo que o café estava pronto e que ela iria se atrasar para as aulas de fotografia.
Levantando-se num salto, Alice corre para o banheiro, lava o rosto, escova os dentes e prende seus cachos num coque desajeitado, vestindo pelo caminho sua camiseta do Iron Maiden, seu short rasgado e seu velho All Star, passa na cozinha, pega um pão de queijo, se serve de um gole quente de café preto, queimando a língua e sai com sua mochila em um ombro só se equilibrando na bicicleta portão a fora. A suave brisa da manhã ajuda Alice a pensar, dando lhe uma ideia simples que poderia ter sido executada antes:
- Vou fotografar aquela coisa. Não, melhor, vou filmar aquela besta! Eu não estou louca, e preciso de provas disso - afirma para si mesma.
No curso de fotografia, todos estavam entusiasmados com um projeto de arte da galeria local que estava prevista para a próxima semana, onde suas fotografias seriam exibidas a um seleto público formado por empresários e diretores artísticos, muitos estavam ansiosos para terem a oportunidade de mostrar seu talento para o mundo, menos Alice, ela não acreditava que empresários artísticos dariam palco para fotógrafos mirins de uma cidade pequena, já havia participado de vários e nada nunca aconteceu, nada além de promessas.
Terminando a aula, Alice pedala fervorosamente de volta para casa, disposta a organizar uma armadilha fotográfica para a entidade que a persegue, já tinha visto em algum filme de terror algo assim, e não era loucura tentar, já que ninguém em casa acreditou nela quando tentou pedir ajuda, sua mãe riu debochando e seu irmão mais velho disse que era culpa dos filmes de terror que ela adorava assistir. Alice tinha certeza de que conseguiria captar algo e esfregaria na cara deles a verdade.
Antes de sair para o colégio, pegou na sala de ferramentas de seu pai um rolo de fita adesiva, um suporte de microfone, barbantes e um sino. Centralizou a câmera acima de sua cabeceira apontando para os pés, passou duas voltas de linha de crochê pelo topo de um abajur ao lado da cama, onde prendeu o sino, e puxou a ponta do barbante por cima da cama, aos pés, onde a criatura acostumava aparecer e subir.
O cenário era de uma emboscada feita por uma criança de 5 anos, mas era o que Alice tinha de melhor. Programou a câmera para gravar a noite toda, com loops de fotos aleatórias em uma outra câmera que estava sobre a cômoda, pegando outro ângulo do quarto, estava tudo pronto e aquela seria a noite perfeita, era sexta-feira, e seus pais costumavam sair para ir ao baile, e seu irmão mais velho fugia para a casa da namorada, Alice ficaria sozinha em casa, sem interrupção de ninguém. Sem ajuda de ninguém, também.
As horas se arrastaram, Alice estava impaciente, não conseguiu se concentrar em nenhuma das aulas no colégio, eram 3 da tarde quando o sinal tocou anunciando o lanche da tarde, foi quando Alice percebeu que estava faminta, e pegou sanduiches e suco de soja extra colocando em sua mochila, como era introvertida, apenas uma menina sabia das coisas estranhas que aconteciam com ela, apenas sua amiga Júlia:
- Então você vai tentar filmar essa coisa?
- Sim, é a única maneira de eu provar que não sou doida, minha mãe estava até falando de me inscrever no coral da Igreja para eu me afastar do mal, afff... Eles não acreditam em mim - responde Alice desanimada.
- E você pretende fazer isso hoje, sozinha? Não, não! Está maluca, e se te acontece alguma coisa? Vou dormir lá com você para te ajudar com isso!
- Sério? Faria isso por mim?
- Faria! Você já fez tanto por mim... Graças a você os valentões machistas deixaram de me perseguir, e minha mãe já até parou de criticar as minhas roupas, tenho muito a te agradecer. Eu te devo ajuda.
- Obrigada... eu já não sabia mais em quem confiar, aliás, não confio em ninguém além de você. Todos me veem apenas como um clichê, a menina de família rica que curte rock e quer chamar a atenção falando que vê fantasmas...
- Vamos pegar essa praga essa noite! (10/07/2025)
CAPÍTULO 02 - SEM LUZ, CÂMERA E ASSOMBRAÇÃO
- Vamos amiga, só espero que ele não nos pegue primeiro! - responde Alice, segurando o riso.
- Não tinha pensado nisso, kkkkk se ele for mais ágil estaremos na merda... Dá tempo de eu desistir?
- Não, você mesma disse que me deve "ajuda".
As duas riram da situação, e terminaram de comer seus sanduíches de presunto, encarando o pátio do colégio como se fossem detentas de uma penitenciária de mulheres. Júlia conseguia fazer Alice rir, o que era algo raro, até mesmo sagrado, ela era de poucos amigos e sua amizade só era ofertada a pessoas verdadeiras, obter uma gargalhada dela era coisa de mestre.
Por fim, o último sinal do colégio tocou anunciando o fim da tortura de Alice, liberando a multidão de estudantes do pátio para seus carros de luxo ou para as Vans escolares, o transporte que Alice sempre pegava, pois não gostava que seus pais a levasse ou buscasse. Chegando em casa, como de costume havia um bilhete colado na geladeira, informando que havia comida no forno, e dinheiro na gaveta próximo ao fogão. Alice estava sozinha em casa.
Subindo as escadas até seu quarto, percebe o quão horripilante sua casa era quando não havia ninguém, a entrada com um pé direito alto, janelas enormes e cortinas brancas passavam um ar de necrotério, além do mais, a casa toda era pintada de um branco gelo que Alice sempre associou aos hospitais. Apertou os passos e entrou em seu quarto de cor rosa queimado e uma parede preta onde estavam seus posters das bandas de metal. A única coisa que Alice queria fazer era entrar em sua banheira com água quentinha e relaxar.
Preparou sais de banho, roupão, chinelo de pelúcia, e um pijama do Bob Esponja tocando guitarra que sua avó lhe dera de aniversário de 18 anos, colocou seus fones JBL e entrou na água, fechou os olhos e rapidamente caiu no sono. De repente, Alice estava numa sala comprida, com várias gavetas do teto ao chão, o local estava quase todo escuro, se não fosse por um feixe de luz que passava pela porta entreaberta, ela reparou também que sua respiração soltava fumaça, procurando suas mãos notou que estavam amarradas, só conseguia mover a cabeça, e viu que estava numa mesa de ferro, e ao longe tinha uma mulher parada, toda de branco olhando para ela.
Essa mulher estendeu o braço esquerdo para Alice, como se estivesse lhe chamando, mas então, seus braços se alongaram de forma inumana, seus dedos e unhas cresceram, e tomaram uma aparência cadavérica, chegando aos pés de Alice, agarrando-os, Alice grita com todo o seu fôlego, e acorda na banheira, se debatendo, quase derrubando seu fone de ouvido na água, se levanta abruptamente e escorrega para fora da banheira, caindo no tapete de crochê, nesse momento repara na marca de queimado em sua panturrilha direita, era o formato perfeito de uma mão.
Assustada, se enrolou no roupão e desceu as escadarias rumo a adega, pegou uma garrafa de uísque e encheu um grande copo sentando-se na bancada de pedra, aguardava Júlia ligar desmarcando, dizendo que era loucura e que isso não existia, mas ao invés disso, Alice escutou a campainha da casa, se levantou aliviada da amiga não ter desistido e olhou pela câmera de segurança, onde havia Júlia com uma enorme mochila de rodinhas e mais algumas sacolas nos braços, Alice não fazia ideia do que se tratavam aquelas sacolas.
- Miga, abre aí logo, estão pesadas essas malas...
- Já abri... Empurra o portão. O que você trouxe aí?
- São algumas coisinhas que peguei na casa da minha prima, ela é bruxa sabe, então eu peguei velas, incensos, tábua Ouija, essas coisas...
- Tábua Ouija? Você não espera que eu vá tentar me comunicar com aquela coisa, não é?
- Sim, vamos tentar nos comu....
- Ahhhhhh, mas não vamos mesmo!!! Me recuso a ir tão longe assim, além do mais, você não saberia se livrar nem mesmo de uma barata voadora, imagina de um demônio... Não vamos e ponto final!
- Precisava expor o meu medo de baratas assim?
- Precisava.... Deixa-me ver essas coisas... Nossa, tomara que não coloquemos fogo na casa.
- É uma opção?
- Para!! Dá para você levar isso a sério? - rebate Alice, mostrando a marca de queimadura na panturrilha.
- Caracas! O que é isso?
- Aconteceu agora pouco, no banho, apareceu durante um sonho muito real que tive, acho que nós estamos lidando com coisa bem pesada aqui... Não seria melhor chamar alguma pessoa que sabe trabalhar com isso? Essa sua prima, por exemplo, ela não sabe fazer um banimento, um exorcismo ou algo do tipo?
- Sim, ela sabe... Vou mandar mensagem para ela, mas escuta, seus pais voltarão bem tarde, neh? Para dar tempo de arrumar toda a bagunça antes, você sabe... Velas, incenso etc.
- Sim, eles saem para o baile e voltam quase ao amanhecer, todas as sextas... Eu nunca os vejo chegando... Aí, dormem até tarde, só nos encontramos no almoço.
- Que legal, queria que meus pais tivessem tentado uma relação assim antes de divorciarem... Minha prima respondeu minha mensagem, ela já está vindo.
- Menos mal, todas as câmeras já estão posicionadas no quarto.
- Haham... A sua casa é muito maneira! Olha o tamanho dessa porta de entrada? Me senti naqueles filmes antigos de castelo - fala Júlia observando o hall de entrada da mansão.
- Valeu, isso é coisa da minha mãe, ela é arquiteta e desenhou essa casa. É a casa dos sonhos dela. Essa porta grande, e esse pé direito alto assim, me causam arrepios. (10/07/2025)