FERNANDA COLLI

FERNANDA COLLI

DE DENTRO PRA FORA

Prezado Leitor, você terá contato semanalmente com temas sobre 'a vida, razão e sentimentos', com a autora Fernanda Colli.

Fernanda Colli é Arte Educadora, professora, pesquisadora, escritora e mãe. Membro da Academia Araçatubense de Letras, é atualmente presidente da comissão Infantopedagógica da IOV Brasil. Com um olhar sensível para os sentimentos e o comportamento humano, estreia sua coluna no jornal / site, onde escreve sobre sentimentos, cura, comportamento e os caminhos sutis que conduzem ao florescimento interior.

-- Acompanhe de perto...


O QUE NÃO É SEU IRÁ TE DECEPCIONAR

Na vida, todos nós nos deparamos com situações, pessoas e oportunidades que parecem feitas sob medida para nós. Às vezes, acreditamos tanto que aquilo nos pertence que depositamos todas as nossas expectativas em algo que, no fundo, nunca foi realmente nosso. É nesse momento que nasce a decepção. A grande verdade é que o que não é seu irá te decepcionar, até que você compreenda que simplesmente não era para ser.

A decepção vem carregada de dor porque acreditamos que poderíamos controlar o destino, segurar o que escapa das mãos, moldar o que não se encaixa. Tentamos insistir em amizades que já perderam o brilho, em relacionamentos que não oferecem reciprocidade, em projetos que não fazem mais sentido. E quanto mais tentamos manter o que não é nosso, mais a vida insiste em mostrar que não adianta lutar contra o que já nasceu desalinhado.

É duro aceitar, mas libertador entender: o que não é seu jamais permanecerá. Ele pode até passar pela sua vida, ensinar lições, deixar lembranças ou cicatrizes, mas não se enraizará. As pessoas certas, os caminhos certos, os amores certos, permanecem. O resto, a vida se encarrega de afastar.

O aprendizado está em não se agarrar ao que nos machuca, mas em soltar. É preciso compreender que deixar ir não é perder: é ganhar espaço para o que realmente é nosso. Tudo o que é verdadeiro encontra um jeito de ficar. E tudo o que não é, cedo ou tarde, decepciona, porque carrega a ilusão de permanência.

No fundo, a decepção é apenas um empurrão do universo para que você se direcione ao que realmente lhe pertence. Quando entendemos isso, a dor se transforma em aprendizado, a perda em libertação e o vazio em possibilidade.

Portanto, não tema o que se vai. Se algo saiu da sua vida, foi porque nunca foi seu de verdade. O que é seu encontrará o caminho de volta até você, sem esforço, sem cobranças e sem dor. (18/09/2025)


O PREGO QUE SE DESTACA É O QUE MAIS LEVA MARTELADA

Existe uma sabedoria popular que atravessa gerações: "o prego que mais se destaca é o que mais leva martelada". À primeira vista, pode parecer uma frase dura, até desanimadora, como se o destino de quem ousa se destacar fosse sempre ser alvo de críticas e ataques. Mas, se olharmos com mais atenção, perceberemos que por trás dessa metáfora se esconde uma grande verdade sobre a vida: só é martelado aquele que aparece, aquele que ocupa um espaço visível, aquele que cumpre uma função importante.

Na prática, significa que se você está recebendo críticas, enfrentando resistências ou suportando pressões constantes, isso é sinal de que você está em movimento, de que algo em você chama atenção. Pessoas que se acomodam, que não levantam a voz, que não inovam, raramente recebem marteladas, justamente porque passam despercebidas. Já quem ousa brilhar, quem se expõe, quem rompe padrões, invariavelmente atrai olhares — e, junto deles, elogios e críticas.

O prego destacado pode ser comparado a qualquer pessoa que resolve trilhar o caminho da autenticidade. É o professor que cria um projeto inovador, o artista que insiste em dar voz à sua cultura, o líder comunitário que não aceita injustiças, o profissional que propõe mudanças no ambiente de trabalho. Todos eles, ao se exporem, correm o risco das marteladas: da incompreensão, da inveja, do julgamento precipitado. Mas é justamente esse risco que mostra o quanto estão firmes em sua missão.

As marteladas doem, é verdade. Mas também cumprem um papel essencial: firmam o prego. Cada crítica, cada obstáculo, cada resistência encontrada pode ser transformada em aprendizado e em fortalecimento. O prego que se destaca e suporta os golpes torna-se ainda mais fixo, mais seguro, mais capaz de sustentar aquilo para o qual foi colocado. Assim também é na vida: as dificuldades não vêm para nos destruir, mas para nos firmar ainda mais nos nossos propósitos.

É importante, contudo, aprender a diferenciar as marteladas. Há as que vêm como ataques gratuitos, fruto de inveja ou medo do novo. Essas devem ser encaradas com maturidade, sem permitir que nos desviem do caminho. Mas há também aquelas que funcionam como ajustes, que nos alinham, que nos ensinam a melhorar. Essas merecem nossa atenção, pois carregam lições preciosas. O segredo está em transformar cada batida em oportunidade de crescimento.

A verdade é que não podemos esperar aplausos unânimes. Quem se dispõe a ocupar lugar de destaque precisa estar preparado tanto para os olhares de admiração quanto para os de reprovação. E é aí que está a beleza da metáfora: o prego que se destaca cumpre seu papel porque suporta as marteladas sem perder sua função. Da mesma forma, quem resiste às críticas, quem permanece firme em sua caminhada, prova não apenas sua força, mas também a relevância de sua existência.

Portanto, se você sente o peso das marteladas em sua vida, não se entristeça. Isso é sinal de que você está visível, que sua luz incomoda quem prefere a sombra, que seu movimento provoca questionamentos em quem permanece parado. As marteladas não são um castigo, mas um reconhecimento indireto de que você está fazendo diferença.

No fim das contas, o que importa não é o número de golpes que recebemos, mas a firmeza com que permanecemos em pé. O prego que se esconde nunca é martelado, mas também nunca cumpre seu verdadeiro papel. Já o que se destaca pode até sofrer mais, mas é ele que sustenta estruturas, que firma caminhos, que faz a diferença.

Que sejamos, então, como esse prego: visíveis, firmes e dispostos a suportar as marteladas da vida. Porque é justamente elas que nos fortalecem, que nos moldam e que nos provam que o nosso lugar no mundo não é o da indiferença, mas o da transformação. (20/08/2025)


O PODER DE UMA PARCECRIA

Parceria é mais do que unir forças — é unir propósitos. Quando duas ou mais pessoas, instituições ou comunidades se conectam com objetivos em comum, nasce algo que vai além da simples colaboração: nasce o fortalecimento mútuo, a confiança compartilhada e a possibilidade de transformar realidades.

Vivemos em tempos em que a competição é exaltada, mas é na parceria que mora o verdadeiro poder. Parceria não é sobre quem brilha mais, mas sobre como a luz de um pode acender a do outro. É sobre reconhecer que juntos vamos mais longe. Seja na educação, na cultura, na política ou em projetos sociais, as grandes mudanças não acontecem sozinhas — elas florescem quando há união.

O campo da cultura popular é um exemplo claro disso. Projetos que envolvem comunidades, mestres da tradição, educadores e poder público só se sustentam e se expandem quando há parceria. Sozinho, um artista pode emocionar; mas em parceria, ele pode movimentar uma cidade inteira. Sozinha, uma educadora pode plantar sementes; mas em parceria, ela colhe florestas de transformação.

E o mais bonito da verdadeira parceria é que ela não impõe, ela acolhe. Não sobrecarrega, soma. Não silencia, escuta. É uma troca em que todos ganham: ganha quem oferece, ganha quem recebe, ganha o coletivo.

Por isso, quando você encontrar alguém que caminha na mesma direção que você, valorize. Quando uma instituição abrir portas para o seu projeto, reconheça. Quando uma comunidade se unir em prol de um bem comum, celebre. Porque o poder de uma parceria não está apenas no que ela constrói no presente, mas no legado que ela deixa para o futuro.

Mais do que um contrato, uma parceria é um pacto de confiança, respeito e esperança. E é exatamente disso que o mundo mais precisa. (06/08/2025)


SEMPRE HAVERÁ ALGUÉM QUE ACREDITA E TE SEGUE 

SEJA REFERÊNCIA POSITIVA

A vida é feita de encontros, olhares e exemplos. Muitas vezes, sem sequer perceber, estamos deixando marcas profundas na vida de quem nos observa. Pode ser um filho que acompanha cada gesto do pai ou da mãe, um aluno que enxerga no professor não apenas conhecimento, mas inspiração, um amigo que busca força no sorriso de outro, ou até alguém desconhecido que se inspira em uma atitude gentil.

Por isso, é preciso ter consciência: sempre haverá alguém que acredita em você e te segue, mesmo de longe.

Ser referência positiva não significa ser perfeito. Pelo contrário, é ser humano, assumir erros, aprender com eles e mostrar que é possível caminhar com ética, respeito e amor ao próximo. A coerência entre o que se fala e o que se faz é o que constrói credibilidade. É isso que nos transforma em exemplo – não apenas de sucesso, mas de caráter.

Num mundo em que as influências são rápidas e, muitas vezes, superficiais, ser uma inspiração verdadeira é um ato de resistência. É lembrar que nossas escolhas têm o poder de tocar vidas, de abrir caminhos, de fortalecer sonhos. E é também um ato de responsabilidade: quando alguém acredita em nós, passamos a carregar junto a esperança dessa pessoa.

Por isso, que possamos cultivar atitudes que somem, palavras que edifiquem e gestos que inspirem. Que sejamos faróis e não sombras, pontes e não muros.

No fim, a vida sempre nos coloca diante de uma verdade simples: alguém acredita em você. Alguém te segue. Que esse alguém encontre em nós motivos para seguir o bem. (30/07/2025)


O QUE UMA MULHER PROCURA EM UM HOMEM?

Não é que ela não saiba fazer as tarefas sozinha. Não é que ela não consiga carregar as caixas pesadas, abrir os potes difíceis, resolver as questões práticas da vida. Ela consegue. Mas o coração dela amolece quando alguém é gentil, quando não é preciso desenhar cada passo para que uma tarefa seja executada, quando um homem se antecipa, observa e age com cuidado.

O coração de uma mulher se aquece quando uma data é lembrada sem precisar de lembrete, quando um detalhe é percebido mesmo sem ser dito, quando uma qualidade é elogiada sem segundas intenções ou interesses ocultos. São nesses gestos que ela enxerga amor, parceria e afeto genuíno.

Uma mulher tem a garra de uma guerreira, a coragem de uma águia e a força de um leão para lutar pelos seus. Mas, em seus momentos de fragilidade, saber que pode contar com alguém que a cuide é reconfortante. Todo mundo acha que só as fracas precisam ser cuidadas, mas não; todas precisam e todas merecem. Até as mais fortes, as mais independentes, aquelas que sorriem enquanto carregam o mundo nas costas.

Quantas vezes, chorando sozinha, uma mulher não desejou que alguém simplesmente a abraçasse, ou dissesse: "Deixa, eu vou resolver isso para você"? Não é incapacidade. É querer ser amada. É saber que, mesmo podendo fazer tudo sozinha, é bom demais quando alguém faz por amor. (23/07/2025)


MESMO QUANDO TUDO PARECER IMPOSSÍVEL

Mesmo quando tudo parecer impossível, continuo lutando. Há dias em que as batalhas internas parecem maiores do que qualquer guerra externa. Em que o corpo pede descanso, a mente pede silêncio e o coração, força para continuar. Mas sigo. Não por obrigação, nem sempre por coragem – mas porque desistir, às vezes, dói mais do que persistir.

No final, descobrimos que as maiores lutas não são contra o mundo, mas contra nós mesmos. Cada justificativa que encontramos para desistir também carrega, escondida, uma pequena razão para tentar de novo. Cada derrota traz em si a lição que faltava para o próximo passo. Cada vitória é só mais um degrau – nunca o último, apenas o próximo.

E é nesse caminho de pequenas batalhas diárias que percebemos que a maior vitória não é um troféu, um título ou um reconhecimento público. A maior vitória é deitar a cabeça no travesseiro, ao final do dia, e saber que você foi fiel a si mesmo. Que, mesmo com medo, você agiu. Mesmo cansado, tentou. Mesmo sem certezas, caminhou.

Porque no fim das contas, a luta é você com você mesmo. As justificativas são suas, as batalhas são suas, e as vitórias, também. E que bom que é assim. Pois isso significa que ninguém pode tirar de você aquilo que conquistou dentro de si.

Mesmo quando tudo parecer impossível, não desista. A vida não exige que você vença sempre. Ela só pede que você continue. (20/07/2025)


RESPEITO SEMPRE EM PRIMEIRO LUGAR

Vivemos em tempos de opiniões fortes, posicionamentos declarados e afetos seletivos. Eu mesma posso não gostar de determinada pessoa, não ir com a cara dela, não querer conviver, chegar perto ou sequer compactuar com sua arte, suas ideias ou seu modo de viver.

Mas há algo que vem antes de tudo isso: o respeito como ser humano é obrigatório.

Respeitar não significa concordar. Respeitar não significa apoiar. Respeitar significa apenas reconhecer a humanidade no outro, que existe independentemente do que ele faz, pensa ou produz.

Além disso, precisamos falar sobre a responsabilidade social de nossas palavras, atitudes e posicionamentos. Disseminar ódio, espalhar intrigas, criar conflitos desnecessários – tudo isso é um desserviço à sociedade. Não contribui para nada além de mais violência e ignorância.

Antes de apontar, criticar ou humilhar, precisamos nos perguntar: o que estou fazendo pela humanidade? Precisamos primeiro nos autoconstruir, tornarmo-nos seres do bem e fazer o bem para o outro. Só assim estaremos em condições de emitir opiniões que realmente agreguem algo ao mundo.

Na verdade, quem opta pelo contrário – pela maldade gratuita, pela fofoca destrutiva, pela intriga – não passa de pessoas ignorantes, que precisam ler, estudar e vivenciar muito mais antes de abrir a boca. E quem aplaude essas atitudes também precisa estudar, e muito, antes de bater palmas para discursos vazios e agressivos.

Posso não gostar. Posso não seguir. Posso não aplaudir. Mas não posso desrespeitar. Porque o respeito sempre vem em primeiro lugar – e quem não entende isso ainda está muito distante de qualquer evolução como ser humano. (16/07/2025)


O PESO DE DAR CONTA DE TUDO

Vivemos em uma sociedade que insiste em cobrar das mulheres um desempenho sobre-humano. É como se houvesse um cronômetro invisível, rodando o tempo todo, monitorando se ela está dando conta — da casa, dos filhos, do trabalho, do corpo, do humor, da vida. E, paradoxalmente, quem vive tentando dar conta de tudo, o tempo todo, corre o risco de atrair justamente quem não dá conta de nada.

Ser multitarefa não é uma escolha. Foi uma exigência cultural naturalizada ao longo de gerações. A mulher que organiza a vida de todo mundo, que antecipa problemas, que resolve, que cuida, que se desdobra, muitas vezes acaba cercada por quem se acostumou a não dividir a responsabilidade — seja em casa, no trabalho ou nas relações.

O peso é real. E vem de todos os lados. Se é mãe, é julgada. Se trabalha demais, é julgada. Se se dedica à casa, é julgada. Se cuida do corpo, é fútil. Se não cuida, é relaxada. A mulher perfeita, segundo os padrões inalcançáveis, deve ser mãe presente, profissional de alto desempenho, esposa impecável, amiga disponível e, ainda, carregar no corpo os traços de quem mal tem preocupações — magra, jovem, descansada, plena.

É uma equação impossível, mas que ainda assim é imposta diariamente, com olhares, comentários, manchetes e, muitas vezes, com o próprio silêncio. A sobrecarga mental feminina não é mimimi, não é vitimismo. É estatística. É saúde pública. É uma urgência social.

Falar sobre isso é mais do que necessário. É um convite — ou melhor, um alerta — para que a responsabilidade da vida, da criação dos filhos, do cuidado, do trabalho e do afeto seja, de fato, dividida. Porque quem cuida da conta de tudo o tempo todo não aguenta para sempre. E nem deveria. (09/07/2025)


SOMOS O QUE PODEMOS SER

Vivemos na era do desempenho absoluto. Somos pressionados, desde cedo, a sermos o que "devemos ser": filhos exemplares, estudantes perfeitos, profissionais incansáveis. Mas há uma pergunta muito mais profunda que se esconde por trás dessas cobranças: afinal, somos o que querem que sejamos ou apenas o que podemos ser?

Ao longo da história, o ser humano se orgulhou de superar limites – físicos, tecnológicos e emocionais. Descobrimos curas, exploramos oceanos, pousamos na Lua e estamos perto de chegar a Marte. Mas, enquanto indivíduos, somos apenas aquilo que nossas forças, condições e histórias nos permitem. Isso não significa acomodação, mas reconhecimento da realidade. Um corredor pode treinar para alcançar sua melhor marca, mas jamais ignorará os limites naturais de seu corpo. Da mesma forma, um trabalhador pode se dedicar ao máximo sem, contudo, negar sua saúde mental ou dignidade.

Aceitar que "somos o que podemos ser" não é desistir de crescer; é ter clareza sobre as próprias capacidades, vocações e, sobretudo, o tempo necessário para florescer. Em um mundo que exige velocidade, muitas vezes o mais revolucionário é cultivar a paciência de ser, no presente, o melhor possível – e não o que é imposto como ideal inalcançável.

Por fim, ser o que podemos ser também significa reconhecer o outro: cada pessoa carrega histórias, dores e batalhas invisíveis que determinam quem ela consegue ser hoje. Mais compaixão e menos julgamentos construiriam um caminho social mais digno e humano, no qual ninguém seja definido apenas pelo que aparenta, mas valorizado pelo que é capaz de se tornar.

Em tempos de pressão e imediatismo, que saibamos respeitar nossos limites e, ao mesmo tempo, sonhar com a próxima etapa. Porque, no fundo, seremos sempre isso: o que podemos ser – hoje, amanhã e em cada novo recomeço. (02/07/2025)