INÊS POMALIS

INÊS POMALIS

ENSAIOS DA ALMA E DA TERRA

Prezado Leitor, você terá contato semanalmente com a coluna 'Ensaior da Alma e da Terra', da autora Inês Pomalis, assuntos inspirados no cotidiano e na natureza. Mais do que informar, esta coluna convida à reflexão e oferece entretenimento, podendo chegar ao cômico. 

Inês Pomalis é Bióloga, pós-graduada em Filosofia e Psicanálise, aposentada, professora e taróloga. Acredita que tudo vibra em energia e está conectado, que cada pessoa carrega um poder único e que nosso propósito é sermos melhores hoje do que fomos ontem.

- Acompanhe de perto...


O AR EM BRASA

Meu nariz sangrou ontem à noite… de novo! Isso vem acontecendo já há uns 20 dias. O ar entra seco, resseca as mucosas das narinas e sai arranhando, provocando espirro e aí está: mancha de sangue no lenço descartável. Depois fica escorrendo por um tempo. Uma caixa de lenços descartáveis dura entre 3 a 4 dias.

Esta situação já me aconteceu no verão, por causa do calor excessivo. Não esperava que acontecesse no auge do inverno. Aliás, que inverno! Disseram que, aqui em Araçatuba, o frio tem a duração de dois dias. Em julho, tivemos quase 20 dias de frio com temperaturas abaixo dos 18°C. Agosto não está parecendo mais quente do que foi em julho. Sinto agosto tão frio quanto foi julho.

Neste inverno, a cidade veste tons de bege, cinza e o verde apagado das árvores. O sol pálido ilumina sem aquecer. O vento frio parece cortar a pele. O céu, azul desbotado, por vezes encoberto por nuvens acinzentadas: não é chuva, é frio.

A umidade foge da pele, das plantas, do ar. Tudo resseca: os lábios, a pele, as narinas. Abro a janela e sinto o cheiro do pó que vem da rua. Poeira invisível que se instala nos móveis, nos pulmões, nas ideias. Sim, nas ideias! Penso na poeira, no vento que a movimenta, na umidade relativa do ar em 35% e no meu nariz que sangra à noite.

Na Praça Rui Barbosa, onde se reúnem alguns idosos para "lagartear", um senhor disse, com a sabedoria de quem já viu muitos invernos passarem: "É tempo de silêncio. Quem fala demais em agosto, costuma engasgar com a própria poeira.

O ar está em brasa e estala. É garganta de poeira. É nariz ressecado que sangra. É treinar o fôlego sem umidade e com pó. É um ensaio para a resistência aos incêndios lá fora e aos de dentro.

Sigo entre sangramentos, goles de água, pingando descongestionante nasal para umedecer as narinas, esperando uma chuva como quem espera uma promessa antiga. Enquanto a chuva não vem, escrevo. Porque escrever é uma forma de umedecer o que ainda vive em mim. - (14/08/2025)


FORA DO RUÍDO

Vivemos rodeados de vozes.

As que chegam de fora, apressadas e opinativas. As que vêm de dentro, que raramente têm espaço para se manifestar.

Às vezes, vivemos no automático: decidimos, resolvemos, respondemos. Ainda assim, algo parece fora do lugar. Um desconforto sutil, uma dúvida que não passa, uma sensação de que esquecemos alguma parte importante de nós mesmos pelo caminho.

É difícil ouvir quando tudo ao redor faz barulho. E é ainda mais difícil quando o barulho vem da nossa própria cabeça: pensamentos girando, preocupações acumuladas, listas de tarefas que nunca terminam. Aprendemos a ser funcionais, eficientes, produtivos, mas nem sempre aprendemos a escutar.

Escutar o quê?

Aquilo que não se diz com palavras.

Aquilo que não aparece nos gráficos nem nos boletos.

Aquilo que se revela quando paramos por um instante, respiramos e permitimos que o silêncio fale.

Entre o ruído do mundo e o barulho da própria mente, nem sempre é fácil perceber o que realmente sentimos. No entanto, há uma sabedoria silenciosa que habita cada pessoa. Um saber mais profundo, que não depende de argumentos nem de explicações. Só precisa de atenção.

Todo mundo tem uma voz interna. Não no sentido místico ou extraordinário, mas como parte do que somos. O problema é que estamos ocupados demais para escutá-la ou inseguros demais para confiar no que sentimos.

Mas como se escutar nesse cenário de correria, telas e notificações constantes?

Não é uma "missão impossível". Pode começar com algo simples. Observar calmamente o que está ao seu redor, como por exemplo, uma árvore, o movimento das folhas, o vai e vem das pessoas na rua ou até mesmo o brilho do céu.

Ao olhar com calma, sem pressa ou intenção de julgar, criamos um espaço interno. A mente, ocupada com mil pensamentos, aos poucos se acalma. Então, aquele saber que estava escondido começa a se revelar.

Há um segredo importante para quem busca soluções e clareza: para encontrar a solução de um problema, saia do problema.

Muitas vezes insistimos em olhar para o mesmo ponto, esperando respostas que não chegam. Mas é quando nos afastamos, quando damos um passo para trás, que a visão se amplia. É nesse espaço fora do problema que a resposta aparece, quase sempre de forma inesperada.

Não é uma técnica difícil. É um convite para estar presente de um jeito leve, sem tentar controlar nada. Apenas olhar e, no olhar, deixar que o silêncio interno apareça.

Nesses momentos simples, podemos perceber o que nos inquieta, o que nos traz dúvida, o que está pronto para mudar. E aí começamos a ouvir aquela voz interior que fala baixo, mas que sabe muito bem o caminho.

Escutar a si mesma pode ser o gesto mais simples e poderoso para reencontrar o próprio rumo.

REFLEXÃO: "Você consegue distinguir sua voz no meio de tanto barulho?" - (13/08/2025)


DIA DOS PAIS

NEM SEMPRE É PRESENÇA, SEMPRE É MARCA

Pai não é só quem está no retrato.

É quem atravessa o tempo da criança com alguma responsabilidade.

Com a escuta. Com o gesto. Com o exemplo.


Pai pode ser aquele que ensina sem palavras.

Pai pode ser aquele que falha.


Neste Dia dos Pais não celebro mitos, mas trajetórias:

que acolhem, 

que educam com firmeza e afeto.

Até mesmo as trajetórias que deixam lacunas, pois também moldam quem nos tornamos.


Para os pais que ficaram, que saibam o peso e a leveza de serem referência.

Para os pais que partiram, que entendam a ausência que deixaram.

Para os filhos, que encontrem pessoas que curem, inspirem, sustentem.


Paternidade é vínculo.

Quando verdadeiro, permanece apesar do tempo.

Quando ausente, ecoa apesar da cura.

Feliz Dia dos Pais para quem faz da presença um legado. 10/08/2025


AGOSTO: MÊS DE DESGOSTO? (01/08)

Chegamos em agosto, trinta e um dias corridos, nenhum feriado. O mês promete ser produtivo, mas estamos cansados dos meses passados e as perspectivas para o futuro não são as melhores. Como será o nosso agosto? Para uns, um mês que se arrasta lentamente, um peso pra carregar; para outros, mais tempo para sentir, mudar, viver.

Mas por que agosto é considerado o mês de desgosto, ou um mês de azar? Nada científico, pura crendice popular. Sabe aquelas coisas que a gente aprende por experiência própria ou observando os fenômenos da natureza? Conhecimento popular transmitido de geração a geração.

Tudo começou em Portugal, com a partida de caravelas no mês de agosto, esposas temiam pela vida de seus amados, pois a possibilidade de ficar viúva era muito grande. Casar em agosto? Só depois que o noivo voltasse do mar!

Outros fatos trágicos reforçaram a fama ruim de agosto, como o início da Primeira Guerra Mundial, as bombas atômicas lançadas em Hiroshima e Nagasaki, o suicídio de Getúlio Vargas, a Guerra do Golfo.

Agosto também é apelidado "mês do cachorro louco", novamente por conhecimento popular a partir da observação de maior quantidade de cães no cio circulando pelas ruas em matilhas, latindo e uivando.

Entre medos antigos e tragédias, agosto chega até nós. Como vamos recebê-lo? Como vamos vivê-lo? Depende das escolhas de cada um de nós.

Podemos baixar a cabeça e lamentar pelos meses passados em que não atingimos nossas próprias metas e objetivos; ou podemos levantar a cabeça e concentrar esforços, caprichar na disciplina para recuperar um pouco do foi perdido. Se não foi feito até agora, agosto nos dá o tempo para fazer.

Se aceitarmos os desafios de agosto, vamos atravessá-lo com decisão e atitude. Agosto não é fim, nem início: é encruzilhada. Desafios e encruzilhada nos convidam a mudar o passo, o ritmo, o rumo.

Então, talvez o "seu" agosto não seja um mês de desgosto. Talvez ele seja apenas aquilo que você escolher transformar. 


CRIANÇA DIZ CADA UMA! (16/07)

Depois de concluir o curso de Jornalismo, consegui meu primeiro emprego na Rede Gazeta de Televisão, que é a afiliada da Rede Globo em Vitória/ES. De estagiária, fui contratada como Jornalista Auxiliar e uma das minhas principais tarefas era descobrir as notícias que estavam em alta nas redes sociais e na mídia.

Estava bem encaminhada, trabalhando com a profissão que escolhi e me formei, orgulho da família. Com certeza faria carreira e alcançaria o sucesso no meio jornalístico. Sim, tenho orgulho do que conquistei ao longo dos meus poucos 24 anos e falo alto e claro: Sou jornalista!

O salário de iniciante ainda era pouco para morar sozinha, então continuava morando com meus pais e irmãos. De qualquer forma, não havia motivo ou pressa para sair da casa dos pais, pois tínhamos uma boa convivência.

Mas a casa ao lado da nossa, era uma casa de aluguel. Famílias vinham, ficavam 6 meses ou 1 ano e mudavam. Por isto não tínhamos profundo conhecimento destes vizinhos, nem eles de nós. Havia chegado uma nova família, um casal na faixa de uns 30 anos, com uma menina de uns 5 anos e um bebê.

Com frequência, ao sair para o trabalho, encontrava a menina no portão da casa. Uma gracinha de menina, olhos curiosos, sorriso radiante, cabelos penteados com lacinhos e uniforme da escolinha municipal. Falava suave, não gritava como a maioria das crianças que conheço. Conversadeira que era, logo puxava assuntos do seu mundinho infantil.

Até que era divertido conversar com aquela pequena. De certa forma me fazia bem, eu seguia o meu caminho leve e sorridente. Sensação de ter feito algo de bom ao dar 2 ou 3 minutos de atenção à menininha.

Outro dia ela mostrou a boneca que levaria para a escola e logo perguntou se eu tinha bonecas. Expliquei que tinha apenas duas bonecas Barbie que guardei como recordação, mas não brincava mais com elas. Assim eram nossas conversas: breves amenidades.

Mas naquele dia foi diferente. O assunto saiu do seu mundinho infantil e adentrou o meu mundo adulto. Nunca imaginei que aquela conversa inocente teria um viés que me faria corar e encabular.

- Oi, moça! Você vai pra escola?

- Não, eu já terminei a escola e agora eu trabalho.

- Trabalha de quê?

- Sou jornalista.

- Que nem essas da televisão?

- É… mais ou menos… Tchau!

- Tchau!

Segui meu caminho e alcancei a esquina, onde esperava uma moto passar para atravessar a rua e vi a menina no colo do pai, em direção ao carro. Ela apontou para mim e pude ouvir o que ela disse:

- Olha, papai! Aquela moça faz programa!


DIA DE MALALA (12/07)

Foi há 13 anos que a mídia do mundo inteiro voltou as lentes e os microfones para um pequeno e pouco conhecido país da Ásia Meridional, o Paquistão. Lá vivia Malala Yousafzai, uma criança de 12 anos com a consciência de uma jovem que entendia a opressão que o Talibã (Movimento Fundamentalista e Nacionalista Islâmico) exercia sobre a sociedade paquistanesa.

Tão jovem e já era ativista na luta pelo direito das meninas à educação. Malala tinha apenas 11 anos quando começou a escrever um blog para a BBC (British Broadcasting Corporation) sob o pseudônimo Gul Makai, relatando a vida sob o regime do Talibã, as dificuldades que ela e suas colegas enfrentavam, principalmente em relação ao direito de frequentar a escola e estudar.

Em 2012 a identidade de Malala como autora do blog e sua determinação em frequentar a escola, levou o Talibã a atacá-la, sendo baleada na cabeça. O atentado contra Malala ganhou repercussão mundial chamando a atenção para a violência do Talibã contra meninas e mulheres e a luta pelo direito à educação. Malala tornou-se um símbolo do direito universal à educação formal escolar.

A ONU (Organização das Nações Unidas) estabeleceu o dia do aniversário de Malala, 12 de julho, como o "Dia de Malala", uma forma de reforçar a importância da educação como um direito e para destacar que ainda há desigualdades no acesso à educação.

Mas o que isso tem a ver comigo, com você, conosco? Uma história de resistência e luta em terras distantes. Como poderia nos atingir? Aqui temos o direito à educação garantido na Constituição Federal. Malala tinha direito à educação, até a interferência do Talibã.

É pouco provável que algo semelhante aconteça em nosso país, mas… o sucateamento da educação com a deterioração dos prédios escolares, desvalorização moral e financeira de professores, são temas que merecem a atenção no sentido de preservar e manter o direito à educação para todos.

Por exemplo, a escola em que você estuda ou estudou, tem Biblioteca? Como é o acervo literário? Tem laboratório de Biologia, Química, Física? Aulas práticas? Para onde vai a nossa educação formal escolar? O que estamos fazendo para que professores e alunos tenham as melhores condições de estudo e aprendizagem?

É aí que entra a história de Malala Yousafzai e torna o Dia de Malala tão importante para nós. Ela era apenas uma criança quando começou suas atividades em favor da educação. Cabe a cada um de nós participar, interagir, solicitar que o sistema educacional em nosso país, em nosso estado, em nossa cidade, seja mantido como direito para todos e com qualidade.

Ao mesmo tempo, a atitude de Malala nos mostra a coragem de defender o que considera certo, não somente para ela, mas para a comunidade. Em que situação vimos algo errado e não tivemos coragem para intervir. Agir embasado nos valores morais e éticos, fazer o que é certo e correto, melhorar o nosso entendimento e compreensão dos procedimentos para colaborar visando o bem de todos.

A história de Malala é de resistência e luta diante de uma situação que chegou a um extremo indesejável. E a sua história, é de quê? (09/07/2025)