
O ESTRANHO
O ESTRANHO

A história de 'O Estranho' está dividida em 15 capítulos, publicada no Folhetim 'Portal', inciando-se no dia 30/03/2025 e terminando no dia 06/07/2025 - um personagem que viveu uma 'evolução espiritual'.
CAPÍTULO 15 (06/07/2025)
(...) e mostravam, também, o cruzamento onde os garotos estavam quando um deles dirigiu a palavra a minha pessoa.
Corri para a janela do apartamento que dava para aquele cruzamento de vias e, vagarosamente espiei: muitas pessoas aglomeravam na calçada... No certo, no certo... Eu não sabia o que estava acontecendo, e não tinha interesse em descobrir. Já estava cheio de todas aquelas pessoas...
Parei um pouco o pensamento. Olhei-me internamente e resolvi dar um basta em tudo: já tinha conseguido boa parte do que sempre havia almejado, e por que não agora seguir o caminho em busco da 'possível fase final'?
Era o momento – sim, era o momento! Voltei para o meu quarto, arrumei tranquilamente as poucas roupas na mala... Sentei-me calmamente na cama: sabia o que estava fazendo.
Retornei à janela da cozinha, espiei e todos ainda permaneciam lá. Fiquei imaginando o tamanho do burburinho que estava a acontecer. Verdades 'mentirosas' sendo contadas – por um lado quem as diziam afirmavam categoricamente que eram verdadeiras; eu – por outro lado, diria que não passava de falas desconexas de quem não tem o que fazer. Errados? (Ninguém diria que sim, nem um lado e nem o outro.)
Abri lentamente a porta secreta que eu sabia existir e deu o primeiro passo firme, de mala segura... Sabia que seria uma longa estrada a ser percorrida, porém satisfatória no final.
A vida passa num piscar de olhos, porém sabia que tudo o que estava pela frente dependeria muito do 'meu jeito de ser'. E o meu jeito de ser enfrentava de tudo um pouco, mas sem vacilar. A vida, com toda certeza, é assim de todos os lados.
Não olhei para trás – e nem fechei a porta secreta (inconscientemente sabia que ela se fecharia imediatamente após eu passar – e não teria volta). Segui firme deixando tudo, deixando todos. E seguindo em busca do que sempre almejei (não tinha dúvidas).
Comecei a caminhar pelo caminho aberto após a porta secreta. Não muito distante começaram as dificuldades: uma escadaria enorme pela frente. E lá fui degrau a degrau, passo a passo. E cada degrau que subia sabia que estava mais perto do que eu sempre tinha almejado.
A evolução humana depende muito do querer evoluir, do querer alcançar – é assim que funciona. Degraus e mais degraus – a luz não era tão forte pelo caminho. De repente a claridade começou a aumentar (a luz a ficar mais forte). Quase não conseguia fixar o olhar para frente.
A percepção da realidade já não era mais a mesma. O corpo já não estava tão cansado à medida que a luminosidade aumentava. Percebi que – de fato, já não carregava mais a mala... (e não sei em que momento ela se 'desgarrou' de mim).
Os próximos passos foram decisivos: olhar fixo na luz arrebatadora que tinha a minha frente. Mesmo com as dificuldades das transformações que estava passando, a libertação do velho corpo fazia diferença. Agora via-me em luz – como se estivesse arrebatado, mas não estava – estava em corpo de luz!
E assim, de ser humano a ser 'celeste' vive o homem nesta busca incessante. Entre a guerra e a paz – busca o ser humano a paz constante...
O Estranho (Edição nº 14, Tabloide "O PORTAL", PDF, de 06/07/2025)
CAPÍTULO 14 (29/06/2025)
Percebi que olhavam o céu pairando sobre o meu bloco o olhar (ou não, ou imaginação minha). Mesmo intrigado (estava de costas para o meu apartamento), continuei o caminhar. A alguns disse-lhes bom dia - conhecia alguns, de vista, de passagem, raros os nomes.
Quando cheguei na porta do restaurante voltei o olhar – também de curioso – para o mesmo lugar provavelmente que olhavam. Voltei o olhar, mesmo que de longe, para os que pra lá olhavam – estavam assustados, olhar profundo. Firmei mais ainda o meu olhar sobre o meu bloco / apartamento (que nesta altura da vida já não é lá grande coisa), e nada me incomodou.
Peguei o mesmo prato de sempre – e quando comecei o degustá-lo parecia sem sabor. (Neste momento percebi que o nível de dimensão era outro – ou, será que nunca estivera ali?)
No caixa a atendente de sempre - dona Flor, que indagou-me:
- O senhor sabe o que aconteceu?
- Não... – e pretendendo não estender a conversa, paguei em silêncio e fui saindo.
- Com o não? Todo mundo sabe... Só o senhor que não...
- Ah! – e fiz cara de desdém...
- Nossa! De que planeta o senhor é?
- De Marte, dona Flor, de Marte! – e mexi as orelhas.
- Então foi o senhor? – disse arregalando os olhos.
- Sim, foi eu – e fui me retirando do estabelecimento.
A todo pulmão dona Flor gritou:
- Gente, temos aqui um alienígena encarnado!
- Quê? Onde? – gritaram alguns.
Olhei para dentro do estabelecimento (pois já me encontrava na calçada) e senti os olhares fulminantes sobre a minha pessoa. Não me contendo, indaguei:
- Quem? Eu?
- Oras, quem mais poderia ser?
Olhei a todos por alguns instantes e, não entendendo nada, procurei refazer o meu sentido de percepção naquele momento.
O burburinho deve ter continuado lá dentro, pois eu bem sabia quem era dona Flor.
Fui vagarosamente me afastando do local e tentando descobrir sobre o que falavam a partir das observações que comecei a fazer, inclusive sobre o bloco onde estava o meu apartamento.
Antes de chegar no meu apartamento, na esquina, havia um menino sentado na guia; ao lado deste um sentado na garupa de uma bicicleta. O menino 'levado', que estava sentado na guia, indagou-me:
- Então foi o senhor?
- Deve ter sido – disse para não aumentar a conversa, e continuei até o meu apartamento. No portão ouvi:
- Dona Flor estava certa...
Parei por uns instantes, pensei: 'Como dona Flor é linguaruda!'
Mas... 'Então foi o senhor?' – não saia da minha mente, Passei o restante da tarde trabalhando sobre os meus textos. O relógio badalou dezessete horas – levantei-me e fui, creio eu como de costume (porque foi tão natural), ouvir o jornal do fim de tarde na televisão, edição local.
Assustei.
Trazia, o noticiário, a imagem frontal do condomínio onde eu residia. Comecei a ver que o assunto abordava vários aspectos da minha vida e...
O Estranho (Edição nº 14, Tabloide "O PORTAL", PDF, de 29/06/2025)
CAPÍTULO 13 (22/06/2025)
Com a cabeça entre as mãos murmurei três vezes: Como a vida é enigmática! – e continuei ali por mais alguns instantes.
Não resolveria em nada esperar o tempo passar. Levantei-me do sofá e comecei novamente a andar pelo apartamento. Voltei à janela para ver o antigo apartamento – não estava mais lá.
Fiquei pensativo por alguns momentos – não sei exatamente determinar quanto, mas fiquei...
Voltei para o primeiro quarto, olhei tudo lentamente. Num dos cantos próximo da janela tinha um espelho. Olhei-me no espelho – parecia eu mesmo, ainda.
Tomei um banho e, meio atordoado ainda, deitei-me. Creio que adormeci por um longo tempo...
Não sei quanto tempo exatamente depois acordei. Estava bem lúcido e comecei a trabalhar freneticamente em textos que estavam esquecidos há anos numa das pastas do notebook.
O barulho não foi tão forte, mas chamou a atenção – tanto que me despertei dos escritos que estava trabalhando. Breve silêncio para, posteriormente, o barulho acontecer novamente – e aquietar-se junto ao breu que se formou. (A energia não se tinha mais – salvei o que pude!)
Não resisti, levantei-me e fui espiar por uma das janelas – a de minha preferência, a da cozinha. Tudo – lá fora, era escuridão, não se via nada. Minutos depois começou a clarear. Respirei fundo.
Olhei tudo em volta – da minha janela, e tudo parecia normal. Abri lentamente a porta e, de repente, um gato preto passou rapidamente entre as minhas pernas e escondeu-se debaixo da mesa. (Não o conhecia... só, depois, notei que ele era meu agora.)
Olhei tudo lentamente novamente – escadaria abaixo: tudo normal. Voltei para a janela da cozinha – tudo normal. Liguei a televisão (agora tinha televisão!) – e a notícia estava em todos os canais...
Retomei os meus escritos no notebook. Não consegui me concentrar. Levantei-me e fui direto para a cozinha novamente – preparar um café! Talvez era o que faltava para a minha concentração.
Sossegadamente tomei o café (e acrescentei umas torradas). Busquei pela notícia que havia escutado na televisão no notebook – e os detalhes estavam lá: muitas pessoas olhavam para cima, outras apontavam algo no alto... Li a mesma notícia em vários sites.
Resolvi dar uma pausa e descer as escadarias até o térreo – e lá no estacionamento algumas pessoas comentavam o fato. Fiquei de longe (não muito longe, pois compreendia perfeitamente o que falavam).
Voltei ao apartamento – subindo lentamente degrau a degrau. De repente, veio-me à mente a questão do trabalho: não tinha ido trabalhar. Rapidamente olhei para o calendário na parede (era período de férias).
O tempo... E continuei a trabalhar nos textos...
A fome bateu. Tomei um banho e dirigi-me para o restaurante que ficava a três quadras do apartamento. (Conhecia o restaurante?)
A caminho percebi que as pessoas ainda olhavam atentamente para o alto, e diziam algumas coisas – mas quando eu me aproximei: pararam. Fiquei intrigado – e até questionando-me sobre o motivo de terem se calado, e logo percebi que...
O Estranho (Edição nº 13, Tabloide "O PORTAL", PDF, de 22/06/2025)
CAPÍTULO 12 (15/06/2025)
O Estranho...
CAPÍTULO 11 (08/06/2025)
O Estranho...
CAPÍTULO 10 (01/06/2025)
O Estranho...