
PEDRO CÉSAR
PEDRO CÉSAR ALVES

ROMANCE - TEOLOGIA LIBERTÁRIA
Prezado Leitor, você terá contato semanalmente com um capítulo do romance 'A Teologia Libertária', do autor Pedro César Alves, voltado para a temática 'Teolóigica'.
Pedro César Alves é Professor de Língua Portuguesa, Literatura, Redação, Pós-Graduado em: Pedagogia, Gestão Educacional, Literatura Brasileira, Lit. Africana-Indígena-Latina, Gestão de Bibliotecas Públicas; Escritor (mais de 40 livros publicos, impressos e on-line), Jornalista e Editor do site 'Araçatuba e Região'; Fomentador Cultural; Pesquisador.
-- Acompanhe de perto o romance... "Teologia Libertária", às quartas-feiras.
Capítulo 15: DE VOLTA A SÃO PAULO
O ano era 1920, estavam a caminho de São Paulo – Exatamente no dia 23 de setembro, início da primavera no Hemisfério Sul. Por um lado, Isabel se sentia feliz, pois estaria perto da família – e de sua igreja preferida; por outro lado sentia que o esposo estava meio tenso, mas de certa forma estava a procurar o que lhe interessava: trabalhar arduamente para o crescimento da obra de Deus.A recepção foi maravilhosa, tanto dos pais de Isabel, quanto da própria igreja que começaram a frequentar. Mas não demorou muito a chegar as conversas entre os irmãos sobre Paulo, claro que vindas da sua antiga igreja. As explicações nem sempre eram entendidas – porém, amparado pelo sogro, manteve a fé que sempre tivera: inabalável!
O primeiro ano de estadia em São Paulo permaneceu como obreiro, depois foi para diácono, auxiliar de pastor (do próprio sogro). E não demorou muito para conseguir a sua própria igreja – mesmo que um pouco distante da igreja que o sogro era pastor.
Com menos de seis meses à frente da igreja que fora designado para ser o dirigente, foi ordenado pastor (porque até então estava subordinado ao sogro). E, nesse período de seis meses fez um excelente trabalho de evangelização nas horas vagas que possuía, fazendo a membresia dobrar em números de almas convertidas. Foi tido por todos como uma verdadeira joia nas mãos de Deus para o processo de evangelização.
Por outro lado, Paulo ainda se sentia um pouco desapontado com sua antiga igreja – e que aos poucos foi deixando do lado e colocando tudo nas mãos de Deus (segundo as suas próprias palavras). Pouco a pouco foi tirando do coração aquele sentimento e crescendo em fé e em obra perante Deus e perante a quem devia respeito (e considerações). E a palavra de Deus sendo proclamada!
Paralelamente ao seu trabalho religioso, desempenhava na 'vida secular' um trabalho que lhe dava muito tempo – vendas; e, consequentemente, neste trabalho falava da Palavra de Deus. Era comedido, mas sabia aproveitar as oportunidades.
O tempo foi passando e houve a necessidade de ampliar o templo onde Paulo pastoreava 'as ovelhas do Senhor'. Com muito esforço e dedicação da membresia, ampliaram o templo no decorrer de dois anos.
Apesar de serem jovens sofriam por não terem tido até o momento nenhum filho – e, assim como Ana, Isabel começou clamar a Deus. O tempo foi passando e cada dia mais se dedicava aos estudos bíblicos.
Por graça e misericórdia de Deus, no ano de 1925, Isabel concebeu o primeiro filho. Chamou-o de Samuel (e disse, ao nascer, que faria de tudo para que o filho fosse ministro na Casa do Senhor) – e assim foi.
No ano de 1927, aos vinte e oito anos, Isabel teve o segundo filho: Paulo Junior e no ano de 1930 nasce a primogênita: Ana Maria.
Dizem que qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência (conheces a história – ou não?). (24/09/2025)
Capítulo 14: A BATALHA NO SUL (CONT.)
O ano era 1920, estavam no Sul – em sua própria casa (...).
Abriu lentamente o portão – mesmo querendo ou não; e subiu lentamente as escadas que muitas e muitas vezes subira ao chegar da igreja. Bateu levemente na porta – e a mãe abriu, com um sorriso largo no rosto e foi logo dizendo:
- Estava esperando por você!
- Que bom e eu estou aqui!
- Antes, quero dar um abraço em meu filho – e cochichou baixinho em seu ouvido: 'Não ligue par ao que o seu pai vai te dizer... nós amamos você!'
- Eu sei, mãe, mas cada um segue a vida que achar melhor.
- Sim, por isso estou dizendo para você não ligar...
E foi se arrastando, ao lado da mãe – (ou abraçado a ela), para o fundo da casa. E lá estava o pai que o recebeu – não de cara tão alegre.
Após o 'A benção, pai', sentou-se ao lado do pai e ficou olhando a paisagem do fundo da casa – bem lá longe... a plantação verdinha, florida... logo teriam a colheita.
O pai, para puxar conversa:
- Que pena que na colheita você não estará mais aqui!
- Eu tenho que atender ao meu chamado, pai.
- Mas o seu chamado, filho, não é lá!
- Pode até não ser, pai, para o senhor, para a sua visão, mas para minha visão sim.
- Filho, pelo amor de Deus... Olhe bem o que você está fazendo... Seguindo um caminho totalmente errado...
- Sim... compreendo as suas palavras, pai, mas totalmente errado está o ponto de vista do senhor. Eu sei o meu chamado e vou ao encontro dele!
- Você é muito cabeça dura! Precisa pensar mais, pensar melhor.
- Não, pai, eu sou aquele jovem que foi ensinado a obedecer sempre e, quando faço uma visita, sou 'descartado'... O senhor me entende?
- Entendo... mas você fez errado!
- Errado? Pai, errado em quê?
- Em ir a outro aprisco...
- Não, pai... se dizem ser o mesmo Deus, onde está o erro?
Um pequeno silêncio e Paulo continuou:
- O erro está neles – e por um único motivo: perder almas por não se aplicarem no que se faz necessário.
O pai olhou-o silenciosamente.
- O erro está em não estudar, em não aplicar que Deus é um só, pai.
- E Deus é um só!
- Mas para a igreja não, porque se fosse não teria problema. Eles querem ser melhores que os outros e não são!
A discussão foi um pouca mais longe, com trocas de 'farpas' entre pai e filho – e ninguém saiu convencido.
De volta ao lar, Paulo e a esposa começaram os preparativos para a mudança.
Dizem que qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência (conheces a história – ou não?). (16/09/2025)
Capítulo 13: A BATALHA NO SUL
O ano era 1920, estavam no Sul – em sua própria casa. Logo foram visitar os pais que, de certa forma, assustaram ao vê-los chegarem. A conversa não demorou muito para tomar os rumos que seriam preciso de, no auge da conversa, Paulo despejou palavras:
- Fui criado por vocês com o maior zelo, com a maior educação possível, e tudo me servirá de apoio na minha missão, porque eu sei que fui escolhido.
- Mas você vai mudar de denominação religiosa, como comentou?
- Vou...
E fez-se silêncio no ambiente em que estavam...
- Você sabe que se um dia quiser voltar par ao que é certo...
- Pai, me entenda... Religião cada um vai seguir a sua, independente de família, e estará tudo certo... Deus é o mesmo...
- Não... não é assim...
- Tudo bem... Se o senhor entende assim, eu não entendo mais assim. E, como disse, estou voltando para São Paulo e vou assumir a minha missão...
- Tudo bem... eu não gostaria que fosse assim, mas é sua escolha, e depois não diga que 'eu não avisei'.
- Eu sei, pai...
E a conversa enveredou por outros caminhos...
De volta para casa Isabel estava quieta esperando o marido abrir o assunto, que não demorou muito:
- Você sabe que o meu pai não concorda de eu sair de onde fui criado, mas com tudo que aconteceu...
- Eu sei, eu entendo... Mas você tem que fazer o melhor para você... Para você se sentir bem...
- Sim...
- E, como o meu pai te disse – lá você vai ser o auxiliar dele e, logo... logo mesmo – eu estou sentindo, você vai ser pastor em algum bairro...
- Eu sei... é o meu chamado...
O sol mostrou mais tênue naquela manhã – talvez seria o sinal de que a batalha começaria (ou não?).
O dia transcorreu com os acertos que eram preciso de se fazer. Paulo tentava ser o mais aplicado possível em tentar resolver as questões pendentes. A pretensão era nos próximos dias retornar à cidade de São Paulo definitivamente.
Dirigiu-se à casa dos pais meio ressabiado, pois sabia que não desistiriam facilmente da ideia de ele se mudar – tanto de denominação religiosa, como de cidade. Por outro lado, dizendo claramente, tinha que enfrentá-los.
Sentia-se oprimido onde estava – falando de religião. Sentia-se que não podia agir como gostaria de agir; ou, ainda melhor, como gostaria de agir a partir dos estudos que fazia junto a esposa.
Chegou no portão da casa dos pais – pensou muito antes de entrar, porém sabia que eram seus pais e, do ponto de vista deles, queria o melhor; do ponto de vista pessoal... não!
Dizem que qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência (conheces a história – ou não?). (09/09/2025)
Capítulo 12: LOUVORES ENTOADOS
Estavam na metade do ano de 1920, em São Paulo, na casa do sogro. E – como citado, o primeiro cântico entoado foi louvor 32, intitulado: 'Aleluia ao Deus Triuno', do Hinário e Salmos, organizado pelo casal Dr. Robert Reid Kalley e Sarah Poulton Kalley, fundadores da Igreja Evangélica Fluminense no ano de 1855, a primeira igreja evangélica em Língua Portuguesa no Brasil. O louvor também é conhecido pelo título "A Ti, ó Deus, Altíssimo Senhor", que louva a Deus através das três pessoas da Santíssima Trindade: o Pai, o Filho (Jesus Cristo) e o Espírito Santo; cada estrofe é dedicada a uma pessoa da Trindade e termina com a exclamação "Aleluia!".
A Ti, ó Deus, altíssimo Senhor,
Ó santo Pai, supremo Benfeitor,
Teus filhos vêm, alegres, dar louvor.
Aleluia! Aleluia!
A Ti, Deus Filho, Salvador Jesus,
Da Graça a fonte, da Verdade a luz,
Por teu amor mostrado sobre a cruz,
Aleluia! Aleluia!
A Ti, divino e terno Instrutor,
De nossas almas Santificador,
Nosso Advogado, bom Consolador,
Aleluia! Aleluia!
Ó Deus triúno, vem-nos receber
E sobre nós estende o Teu poder;
As nossas almas vêm aqui reger.
Aleluia! Aleluia!
E depois outros e mais outros e, quando notaram, a hora se fazia tarde. O sono já batia e o sogro, de forma não tão severa, comentou:
- Precisam se preparar – todos, que o jejum chega para todos e precisamos fazer, porque 'o fim dos tempos' está chegando e o Senhor Deus bate à porta!
Todos concordaram, pois quando o silêncio se fez presente (parece que é uma das 'formas de concordar' - pois não há contestação). E, um a um, foram se encaminhando para os aposentos.
O dia amanheceu com o sol desejando mais um excelente dia – mostrou sua face ardente desde cedo! Dali a dois dias Isabel e Paulo partiriam para o Sul, como tinham comentado. Tristeza de um lado para dona Madalena, mas sabia que em breve estaria com a filha por perto.
Do outro lado Isabel estava mais feliz ainda, porque estaria retornando ao lar, não somente ao lar dos pais, mas também ao 'berço evangélico' pelo qual fora criada. O 'berço evangélico' que sentia imensa saudade. Saudade dos estudos, saudade de estar 'ensinando' (vivenciando – aprendendo e ensinando).
Por outro lado, Paulo não estava nada bem. Nada bem em seu interior, em sua mente, em seu espírito. Sabia que 'bateria' de frente com os seus pais, mas estava decidido a seguir – lado a lado – com a esposa no sentido de poder ter o 'direito' a estudar a Palavra de Deus, pois sentia 'sede de conhecimento' (situação que em sua denominação religiosa era proibido – devia tudo ser revelação do Espírito Santo).
O dia chegou e partiram rumo ao Sul.
Dizem que qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência (conheces a história – ou não?). (03/09/2025)
Capítulo 11: O MELHOR JANTAR
Estavam na metade do ano de 1920, em São Paulo, na casa do sogro. E, naquela noite – na casa de seus pais, Isabel preparara o melhor jantar de sua vida até então. Sabia que era uma oportunidade de, ao lado da família, externar o que estava sentindo: alegria!
A mãe – dona Madalena, por sua vez, estranhou o comportamento da filha nos momentos que antecederam o jantar; era de euforia (que há tempos não via). Questionou-a, porém não conseguiu extrair nada da filha.
Todos à mesa, e o pai – senhor Davi, pede ao genro que fizesse a oração de agradecimento pelo jantar. Paulo olhou para o sogro, fazendo sinal de consentimento, olhou para a esposa e disse a todos, em voz alta:
- Antes da oração, se o senhor me permitir – voltando-se para o sogro, gostaria de comunicar uma decisão que, junto com minha esposa, queremos comunicar.
- Sim, pode falar, você está em casa.
Paulo se levantou, foi para perto da esposa (que também se levantou), e disse:
- Esta semana retornaremos para o Sul...
(E causou um prolongado: Ah!)
- Mas retornaremos em breve...
Nem tinha acabado de falar a última sílaba, dona Madalena já questionava:
- Verdade? – olhando para Isabel.
- Sim, mamãe... – mas o Paulo vai falar certinho...
E Paulo continuou...
- Ontem pensei muito nas falas que ouvimos aqui – e prefiro não as repetir. Depois de muito pensar, conversei com a Isabel e, se o senhor aceitar, vamos seguir com o senhor em seu Ministério.
Os olhos de todos voltaram para o senhor Davi...
- Meu Deus! Era o que eu mais queria! – e foi ao encontro do genro, abraçando-o.
Todos se abraçaram.
- Agora, depois dessa notícia de felicidade, eu que vou fazer a oração, pois preciso agradecer a Deus pelo que eu tanto pedia: minha filha de volta e um auxiliar à altura para fazer a obra junto comigo!
E o senhor Davi pediu silêncio e começou a oração em agradecimento da alimentação e da notícia que acabara de receber – em forma de atendimento às suas orações.
Após a oração – que não foi muito longa, mas de coração puro em agradecimento, todos à mesa saborearam o melhor jantar até então que Isabel já tinha preparado em sua vida.
Após o jantar, sentaram-se na varanda, fizeram vários comentários e o senhor Davi propôs de cantarem alguns louvores em forma de engrandecimento ao Senhor Deus Todo-Poderoso. E iniciaram com o louvor 32, intitulado: 'Aleluia ao Deus Triuno', do Hinário e Salmos, organizado pelo casal Dr. Robert Reid Kalley e Sarah Poulton Kalley, fundadores da Igreja Evangélica Fluminense (1855), a primeira igreja evangélica em Língua Portuguesa no Brasil.
Dizem que qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência (conheces a história – ou não?). (27/08/2025)
Capítulo 10: REPENSANDO
Estavam na metade do ano de 1920. Estavam em São Paulo, na casa do sogro. Paulo não conseguia dormir – ou, como alguns dizem, o sono passou a correr dele. As palavras que ouvira o fizera pensar muito e algumas decisões tomar.
Porém, nem todas as decisões devem ser tomadas de um momento para o outro – sempre há a necessidade de colocar em dúvidas (pois, a princípio, pelo calor das emoções, podem ser viáveis, posteriormente: um desastre). Se há necessidade de pensar, iria pensar.
Tentava e tentava e tentava esquecer as falas que ouvira, mas estava cada vez mais difícil de esquecê-las.
A mulher tentou tirar alguma coisa dele (talvez a decisão), mas Paulo apenas comentou que ainda estava processando a decisão e no momento certo ela seria a primeira a saber. E Isabel sabia bem disso – apesar de certas decisões que o marido tomava não concordar, ela era a primeira a saber (mesmo não gostando – era o marido!).
As horas pareciam não passar, o dia não amanhecer – mas Paulo não resistiu aos pensamentos e adormeceu. O sol mostrou a sua face. O cheiro do café inundou o ambiente da casa. Paulo despertou (e Isabel já cuidava dos afazeres domésticos).
O dia transcorreu com Paulo sempre mais quieto do que o normal. Sempre que Isabel o procurava, estava num 'canto quieto' – parecia que meditava (e de fato meditava em tudo que havia acontecido).
De repente, quando o sol começava a tentar 'deitar-se', Paulo chamou Isabel no quarto e comentou:
- Precisamos ir embora, encurtar os nossos dias aqui.
- E por quê?
- Pelo fato dos acontecimentos que soubemos aqui em São Paulo e precisamos colocar a limpo lá no Sul.
- Acertar?
- Sim. Se você não achar ruim, vamos voltar para casa, dar explicações aos meus pais e retornaremos para cá.
- Retornaremos? Como assim?
- Retornaremos... E vamos seguir aqui com seus pais, pois lá já sei que não vou conseguir o que quero, e aqui eu sei que vou conseguir, porque o seu pai pensa diferente quanto às questões religiosas.
Isabel não se conteve e se jogou sobre o marido, que estava sentado na cama, caindo os dois deitados na cama – beijando-o carinhosamente, com lágrimas nos olhos.
O tempo passou – não se tem como medi-lo. Isabel contemplou mais uma vez o marido e perguntou:
- Posso comentar com meus pais?
Paulo olhou-a ternamente, dizendo:
- Que tal falarmos com eles na hora do jantar?
Isabel consentiu com a cabeça, levantou-se, enxugando as lágrimas...
- Vou começar a preparar o melhor jantar da minha vida!
Paulo apenas sorriu...
Dizem que qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência (conheces a história – ou não?). (20/08/2025)
Capítulo 9: REMOENDO
Estavam na metade do ano de 1920. Estavam em São Paulo, na casa do sogro. Paulo passou a noite em claro – fazia, de si para si, um monólogo – por assim dizer.
Começou a pensar nas palavras em que ele e Isabel trocavam diariamente (não era discussão, costumavam dizer que era apenas trocas de informações sobre as denominações religiosas).
Quem ouvia poderia pensar que estava discutindo religião, mas na verdade não, apenas tentavam entender as 'tais regras' que cada denominação religiosa aplicava aos seus seguidores.
Certa vez Paulo e Isabel chegaram num denominador comum – o que raras vezes acontecia: se há um Deus que, segundo o Cristianismo, é o criador de tudo, por que várias denominações religiosas? E cada uma aplicando as suas regras, as suas doutrinas... – chegaram ao fim da conversa dizendo que Deus deveria ser um só (apesar de saberem que 'deus é regionalista', e nesse ponto Paulo concordou com Isabel).
Logo após concordar naquela ocasião com a esposa, discordou novamente, pois ela aplicara um 'golpe de mestre' apontando a hierarquia do clero. Mesmo sabendo – pois Isabel mostrava a ele a partir de seus estudos, que as igrejas tidas como evangélicas vieram de uma só: da igreja 'montada' por Constantino e seu desenvolvimento a partir dos séculos. E, tendo a sua primeira grande quebra com Martim Lutero – um rebelde aos olhos de Isabel.
E Paulo passou a noite remoendo todas as conversas que já tivera com Isabel – e, não falava, mas por dentro sabia que Isabel tinha, além de conhecimento bíblico, tinha conhecimento da história da Igreja ao longo dos séculos. Ele, dentro de sua denominação religiosa, não estudava (era 'proibido' – tudo tinha que ser a partir de revelação do Espírito Santo).
Parecia um filme em sua mente – desde quando era pequeno, todo o preparo dos pais para com ele, para com a igreja, para com Deus – e, agora, fora descartado por ter participado de outra denominação religiosa. Não entendia bem, mas estava acontecendo – o que explicar aos pais se chegassem a comentar?
E, de repente veio à mente um comentário que certa vez ouviu: 'que ovelhinhas não podiam ir a outro aprisco, porque vai que acha que o pasto de lá é melhor... e não volta'; ou, ainda, evitar trazer mensageiros que possuía forte pregação... podia ser que estavam tentando 'pescar almas daquele aquário'. Refletiu por muito tempo sobre aquelas colocações que já ouvira várias vezes...
No fundo, no fundo... Sabia que Isabel tinha razão em vários itens que sempre entravam em pauta quando o assunto era religião. E, de repente, sentou-se na cama – assustando Isabel.
- Não dormiu ainda?
- Ainda não...
- Estás pensando sobre o acontecido, não é?
- Sim... E tomei uma decisão...
Dizem que qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência (conheces a história – ou não?). (20/08/2025)
Capítulo 8: Explicações
Estavam na metade do ano de 1920. Estavam em São Paulo, na casa do sogro.
- Não sogro, é que a denominação religiosa que sigo não permite que os seus membros visitem outras igrejas...
- Ah, entendi...
E o silêncio ficou novamente no ar... E Isabel o quebrou:
- Eu já falei para ele, pai, que é muito estranho certas doutrinas e certos costumes que eles têm... É diferente da nossa... Nem parece que acreditamos no mesmo Deus!
- Calma, Isabel, nós já conversamos sobre tudo isso...
- Eu sei, querido, mas é estranho...
- Como assim estranho, Isabel? – questionou o pai.
- Aqui onde o senhor é ministro, pelo menos até então, para ser ministro tem que ter conhecimento bíblico. Estuda-se e prepara o sermão. Lá não, o ministro que preside o culto oferece aos que estão lá na frente e, se algum sentir da parte de Deus – como eles falam, que levante e pregue o sermão. Ou ele mesmo que está presidindo o culto fala que vai ler onde Deus revelou a ele naquele momento.
- Ah, entendi...
- Mas o problema não é só esse... Sai muitas palavras que nem na Bíblia constam...
- Bem, neste caso, não pode acontecer, por isso é bom ter conhecimento – ponderou o senhor Davi.
Mais um pouco de silêncio... E Isabel continuou:
- Eu falo para o Paulo que o clero é mais organizado que os evangélicos e ele acha ruim...
- Eu não acho ruim, apenas digo que são diferentes...
- Sei que são diferentes, mas... Viu só o que minha mãe falou?
- Sim, ouvi...
- E você ficou chateado...
Paulo olhou para Isabel e nada disse – realmente a mulher estava certa (mais esta vez!). Em seus pensamentos Paulo queria contrariar, mas não tinha argumentos.
Isabel contemplou o marido por mais alguns instantes... Ficou imaginando o que ele estaria pensando – e, com toda certeza, jogando a culpa nela por insistir dele a acompanhar na igreja que o pai era ministro.
Sabia que, pelos altos das conversas que já tivera, que ele tinha sido preparado desde criança para ser um ministro do alto escalão, porém, agora, com certeza demoraria mais para ser.
O pai, senhor Davi, comentou baixinho alguma coisa com a esposa, dona Madalena, que disse em bom tom:
- Não estou mentindo!
- Eu sei que não está, mas não era preciso falar...
- Entendo, mas eu não imaginava tal absurdo!
- Eu também não, mas precisamos respeitar o que a denominação dele tem como regra!
- Pai, como a mãe acabou de falar: regras absurdas! Eu qualquer dia já comentei com o Paulo que volto a frequentar a nossa igreja...
- E será sempre bem-vinda, vocês dois, filha!
Dizem que qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência (conheces a história – ou não?). (20/08/2025)
Capítulo 7: PALAVRAS A MAIS
Estavam na metade do ano de 1920. Paulo, após a apresentação do sogro ao senhor de meia idade, de cabelos grisalhos, ficou cabisbaixo. Somente Isabel notou – e, quando chegaram na casa do sogro, de forma bem discreta, questionou o esposo sobre. Paulo explicou que a denominação que eles frequentavam no sul não admitia que frequentasse outra denominação religiosa. (Parecia que Paulo estava prevendo alguma coisa...)
Pretendiam ficar em São Paulo pelo menos quinze dias – e ficaram. E, por insistência da esposa, Paulo frequentava a igreja em que o sogro era ministro. Foi lhe dado, inclusive pelo sogro – e ele recusou – um dia para levar a mensagem. Ao cabo de dez dias a sogra questionou-o na mesa do jantar (que sempre era após o culto):
- Paulo, uma das minhas vizinhas disse que o seu nome foi apresentado para ser ministro do alto escalão em sua cidade, mas... – e parou a conversa...
Todos à mesa olharam imediatamente para dona Madalena esperando que ela completasse a fala... Como ela ficou quieta, um dos irmãos perguntou:
- Mas??? ...
- Não deveria falar...
- Mas já que começou, mulher, termine...
- É que ele foi apresentado, mas o senhor Jerônimo disse à esposa que houve uns votos contra...
- Como assim?
- Só porque ele está indo no culto aqui conosco!
- Só por isso????? Disseram os irmãos quase ao mesmo tempo.
- Só por isso! – repetiu a mãe.
O silêncio permaneceu por alguns minutos. Paulo, pediu licença, levantou-se e foi para o fundo da casa, para o quintal. E permaneceu olhando as estrelas por um bom tempo.
O sogro levantou-se para ir ao encontro do genro, mas Isabel pediu ao pai que não fosse naquele momento, que o deixasse pensar sobre oi assunto.
O pai sentou-se novamente, mas interrogou Isabel:
- Não estou entendendo, o Deus não é o mesmo?
- Eu espero que sim, pai... E também, como o senhor, fiquei surpresa!
Mais silêncio.
- Mãe, quem é o senhor Jerônimo?
- Isabel, é aquele senhor que o seu pai apresentou aquele dia a vocês...
- Aquele senhor de meia idade, cabelos já grisalhos?
- Sim...
Meia hora depois, todos já sentados na sala – em meio a um silêncio profundo que só era quebrado pelo funcionamento oculto dos neurônios, Paulo entrou na sala e pediu desculpas pelo acontecido.
Não precisa desculpas, Paulo, você não fez nada de errado. Eu que convidei você a ir ao culto onde eu sou ministro. Do meu ponto de vista, creio que o Deus é o mesmo, mas...
- Não sogro, é que...
Dizem que qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência (conheces a história – ou não?). (13/08/2025)
Capítulo 6: PALAVRAS DE CONVENCIMENTO
O ano era o início de 1920. Paulo simplesmente disse que nada dissera (que seria o oposto com Isabel: questionaria até a última letra, por assim dizer). Paulo era mais de ouvir, de fazer sem questionar (o que era o ideal para um bom obreiro), Isabel totalmente oposta.
Os dias foram passando e já estavam na metade do ano. Na maioria das denominações religiosas as grandes convenções ministeriais são realizadas nesta época do ano. E, por assim dizer, a cidade de São Paulo fervia de 'irmãos' de todos os cantos do país, e de países próximos. Era nesta época que seguiam para análise os nomes dos próximos que passariam a exercer cargos ministeriais.
Isabel convencera o marido a ir para São Paulo – estava com saudade dos pais, dos irmãos e, com toda certeza os irmãos estariam em casa nessa época do ano. Paulo pensou um pouco e concordou com a esposa. Se prepararam, avisaram os familiares e viajaram para a cidade de São Paulo.
A distância entre o sul do país – onde residiam – e a cidade de São Paulo, não era pequena: quase um dia de viagem. O ônibus, estranhamente ou não, estava com sua lotação máxima. No caminho foram muitas conversas trocadas entre os passageiros – apenas um senhor de meia idade, cabelos já grisalhos, sentado na poltrona da frente não ousava conversar.
A chegada a cidade de São Paulo foi saudada de bem-vinda por Isabel. E não era para menos – mais de dois anos e meio sem ver os pais e os irmãos – apenas algumas cartas que demoravam a chegar. A festa foi enorme quando entraram portão adentro. A mãe não se continha em lágrimas, o pai meio querendo-não-querendo chorar, os irmãos correram também para a festa, abraçando-a carinhosamente. (Sem falar que o cachorro também fez festa.)
A conversa foi até alta noite entre eles – Paulo, mais quieto, participava pouco da conversa. No outro dia foram andar um pouco pela redondeza e, à noite, o pai já havia recomendado a ida ao culto.
Isabel, toda alegre, mais alegre ainda estava em poder rever os irmãos da igreja que compartilhou por um bom tempo. Durante a tarde o coração de Paulo mostrava-se apertado – não gostaria de ir ao culto na igreja que o sogro ministrava, queria ir em sua denominação religiosa que já estava em quase todos os bairros da cidade.
Para não contrariar a esposa – nem ao sogro – foi ao culto. Sentou-se num banco próximo da porta lateral e ficou quietinho. No momento das 'oportunidades' o sogro o chamou e ele ia recusando, mas a esposa deu-lhe um cutucão, que o fez 'obedecer' ao chamado. Na vez de Isabel... o pai quase precisou pedir para ela parar de 'contar as maravilhas recebidas no sul' porque o relógio não espera...
Ao terminar o culto a festa foi grande, entre muitos abraços, seguiram para casa. Iam lentamente – a pressa não se tinha mais... encontraram o senhor de meia idade, cabelos já grisalhos. Este também carregava a bíblia e um outro volume – o de cânticos.
O pai de Isabel apresentou-o a eles, inclusive citando que o genro era da mesma denominação dele...
Dizem que qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência (conheces a história – ou não?). (06/08/2025)
Capítulo 5: PALAVRAS DE ISABEL
O ano era o início de 1920. Mesmo com todo estranhamento, Paulo recebeu-o alegremente com um 'beijo' – tradição do povo italiano, de alegria, e convidou-o a entrar. Ele disse que não era preciso, mas que precisava conversar com Paulo – convidando-o a tomar um café numa cafeteria próxima.
Paulo fez o comunicado a Isabel – que também estranhou...
Fechou a porta e saiu. Ambos caminharam silenciosamente até a cafeteria, e de forma interrogatória com o olhar Paulo questionou o ministro do alto escalão.
- Vou lhe fazer uma pergunta, irmão, e não quero que leve a mal.
- Sim, ministro, sem problema algum... Pode fazer.
- Conheço o irmão desde quando nasceu, cresceu entre nós e agora já homem feito. Casou-se em São Paulo e agora está entre nós há mais de dois anos... – e fez uma pausa.
Paulo continuava calado, de olhar interrogativo, aguardando o desfecho...
- E, como disse, há mais de dois anos conosco... e ainda não tem filhos...
Paulo, pego de surpresa, nada disse. O ministro do alto escalão apenas o encarou aguardando resposta.
Novamente, Paulo se mexeu na cadeira que estava sentado:
Vou dizer como a minha esposa sempre diz... 'quando Deus quiser nos dar um filho, será bem-vindo'.
- Então, me desculpe falar, precisamos orar a Deus sobre essa causa.
Paulo apenas balançou a cabeça – não sabemos se afirmativamente ou negativamente – mas dentro de si, já sabendo das falas da esposa, murmurou quase entre dentes 'só Deus que abre ou fecha a madre de uma mulher' – e completou em bom tom: 'Deus sabe o que faz, e faz na hora certa!'
O ministro do alto escalão, entre outras conversas, sugeriu que procurassem um médico especialista no assunto. A conversa se arrastou mais um pouco, mais outra xícara de café...
Ao sair, novamente o ministro do alto escalão pediu desculpas, e completou dizendo que era preciso ter tido aquela conversa com ele. Paulo nada entendeu no momento – se despediram ali mesmo.
Ao abrir o portão – Isabel imediatamente abriu a porta com o olhar interrogativo. Paulo não esperou a mulher interrogá-lo e foi dizendo o que o ministro do alto escalão perguntara.
Isabel olhou fixamente para Paulo e completou:
- Nós não termos filhos incomoda-os...
- Eu não me sinto incomodado, está nas mãos do Altíssimo!
Ficaram calados por alguns instantes e Paulo completou:
- O que mais me intrigou foi a fala dele em dizer que 'era preciso ter tido aquela conversa'...
- Como assim? Você não o questionou sobre 'era preciso ter tido aquela conversa'?
Dizem que qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência (conheces a história – ou não?). (30/07/2025)
Capítulo 4: PRÓXIMAS PALAVRAS
O ano era o início de 1920. Isabel Quitéria Floresta, jovem de 21, vinda da cidade de Belém (Pará), morou uma época em São Paulo, onde foi apresentada a Paulo, e dentro de um ano se casaram e há dois anos estão no sul do país.
As tentativas de Paulo não foram suficientes para trazer a mulher de volta aos trilhos – como costumavam dizer os mais velhos. Isabel estava cada vez mais questionadora sobre os princípios cristãos, sobre os princípios doutrinários da denominação religiosa que seguia junto ao marido.
Para Paulo, o que mais o deixava temeroso, era de a esposa dizer aos membros o que dizia a ele. A ele, como pensava, estava no particular, aos membros seria – ou daria – um grande escândalo. Isabel seria vista como uma mulher rebelde – poderiam dizer até que ela estava usando de 'heresias'. Paulo, à vista dos mais velhos, era tido como um futuro obreiro que ocuparia o mais alto cargo dentro da hierarquia religiosa (tinha tudo o que precisava um obreiro).
Entre as mais diversas conversas que mantinham, Paulo e Isabel nunca chegavam a um acordo, porém nunca deixavam as questões religiosas interferirem no relacionamento conjugal (o que, de certa forma, era um 'ponto positivo'). E numa dessas conversas... Ah! pobre Isabel, pobre Isabel! O marido levantou-se estupidamente do sofá e, de dedo em riste, disse:
- Como você ousa ser contra os princípios de nossa fé?
- Não sou contra os princípios, sou contra a falta de preparo de grande parte dos ministros... Você não vê o clero?
- E lá vem você com o clero... o que tem o clero a ver com a nossa fé?
- Ao mesmo tempo tem tudo, e ao mesmo tempo pode ter nada – depende do ponto de vista de quem observa. Eu fiz a comparação dizendo que o clero se prepara para estar onde está, os nossos ministros não possuem preparação alguma – com raras exceções, e, por vezes, dizem coisas que nem nas Sagradas Escrituras está escrito!
O marido olhou-a atentamente por alguns instantes. Deus os passos para trás e sentou-se novamente. Ficou um bom tempo examinando a esposa silenciosamente – depois, o seu olhar se perdeu no teto da casa.
Não se sabe por quanto tempo os pensamentos de Paulo divagaram na imensidão de 'palavras' que a esposa já lhe havia dito. Isabel o observava atentamente – conhecia já um pouco o esposo. Deixou-o na 'caixinha do tudo' pensando sobre o que haviam comentado. Sabia que tinha 'razão' – e o marido também sabia disso.
De repente, a campainha toca, Paulo é pego de surpresa com o som. Levanta-se quase ainda inerte em seus pensamentos e abre a porta. Era um ministro de sua igreja, do alto escalão, por assim dizer – o que causou estranhamento em Paulo...
Dizem que qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência (conheces a história – ou não?). (23/07/2025)
CAPÍTULO 03 - PRIMEIRAS PALAVRAS
Ainda era o ano de 1917. Isabel Quitéria Floresta, jovem de 18, vinda da cidade de Belém (Pará) estava frente a frente com o seu futuro esposo – Paulo. Foram apresentados no almoço e, querendo ou não, Isabel não tinha muito a escolher pelo aceitar ou não – os tempos eram outros.
No entanto, Isabel tinha a sua opinião sobre o futuro esposo – coisas de mulher, por assim dizer (mas guardava segredo a sete chaves, como se dizia em tempos antigos). Começaram a conversar durante os meses que se seguiram e, ao final do sexto mês – já mais familiarizados, Paulo 'pediu a mão de Isabel em casamento ao pai'.
Mesmo com a opinião 'velada' sobre o seu futuro, Isabel frente às palavras do pai, aceitou. E, seis meses depois, casava-se com Paulo – que era filhos de imigrantes italianos, cristãos, fundadores de uma igreja ao sul do país. E, não demorando muito dias após a celebração matrimonial, Isabel e Paulo seguiram para o sul.
Nesse contexto religioso patriarcal – agora em outra denominação religiosa (a do marido), tinha que se conter: não podia fazer nada do que tinha em mente, nada do que estudara. Sentia-se oprimida frente ao que, no momento, enfrentava.
Olhava para um lado, olhava para o outro e não via saída. Tinha, em casa, tudo que precisava: um esposo atencioso que não lhe deixava faltar nada – porém, em seu íntimo, tudo o que havia feito antes, todo o preparo que tinha se empenhado, não podia ser usado.
Tentava entender o que estava acontecendo com ela – e nada de compreender-se. Era uma busca sem fim, um resultado nada satisfatório. Já estava casada e no sul do país há dois anos – e nada de filhos (o que a deixava um pouco preocupada).
Na membresia havia sempre as 'irmãs do coque' que a questionavam sobre quando teria filhos e ela sempre dizia o mesmo 'quando Deus quiser dar' – o que já estava a irritá-la e no íntimo dizia a si mesmo 'sou eu Deus para abrir a minha própria madre?' – e os dias foram passando...
O tempo escorrendo entre os dedos – por assim dizer – Isabel sentia-se cada vez mais sozinha; cada vez 'encolhia-se' mais em si. Mesmo o esposo indo contra o que sempre procurava estudar, Isabel sempre se mantinha à frente do seu tempo em seus estudos. E, com isso, começou a observar de 'mais perto' a doutrina religiosa que estava seguindo junto com o marido e, às vezes, o questionava – o que não era bem-visto por ele.
Para Isabel, a doutrina estava não muito certa – assim como também falava da doutrina que a igreja de seus pais pregava. Por parte do marido, de forma quase imperceptível, a via como uma mulher 'rebelde' perante a igreja - mesmo que a ele sempre estava a servir. Aos poucos foram conversando e Paulo tentava diariamente fazê-la entender os 'tais mistérios de Deus'.
Dizem que qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência (conheces a história – ou não?). (16/07/2025)
CAPÍTULO 02 - DATA MARCADA
O ano era 1917. Isabel Quitéria Floresta, jovem de 18, vinda da cidade de Belém (Pará) e agora residente há dois anos na cidade de São Paulo, capital do Estado de São Paulo, estava com os passos apressados – o que será que estava acontecendo em sua casa? Alguém doente? Alguma outra coisa para várias pessoas estarem ali?
No portão da casa, ouviu alguém falando alto:
- Olha aí que ela vem chegando...
Então o assunto não era os outros, era ela? Ficou mais intrigada ainda. Fez os cumprimentos aos que ali a esperavam, e que já conhecia – por assim dizer, e foi direto questionar a mãe sobre o que estava acontecendo. A mãe pediu calma que contaria tudo.
Após ficar a par do assunto, balançou a cabeça (agora não se sabe se foi em sinal de aprovação ou de reprovação). Entrou para dentro do seu quarto e foi – como de costume, colocar uma roupa do dia a dia. (Costumava dizer que roupas de ir ao culto, eram de ir ao culto; as de ficar em casa, de ficar em casa – e assim conservava as roupas.)
A mãe estava atarefada com a finalização do almoço – porque teria a visita de alguns ministros do Evangelho naquele dia, entre eles estaria um pretende da mão de sua filha. Para a família ter uma filha 'casada' com um ministro seria uma honra enorme – por isso o almoço merecia o maior capricho.
Por outro lado, a mãe conhecendo um pouco a filha, ficou pensativa: Isabel não mostrou vislumbre algum, mas também não deixou de demonstrar. E aqui ficava a preocupação da mãe. Satisfeita com a ideia ou insatisfeita? E, ainda pensando sobre o assunto, sobre as expectativas que o marido tinha sobre aquele 'encontro', ficou mais pensativa ainda. Isabel não era uma pessoa fácil de se lidar; não admitia imposições; era uma mulher – embora jovem, muito esforçada, que trabalhava pesado para manter a casa toda arrumada. Talvez sonhadora! Sonhadora!
O almoço ficou pronto e logo depois os convidados foram chegando – convidados ou não, não é possível saber dos acertos que aconteceram por trás de toda a trama do dia.
A mãe de Isabel dirigiu-se ao quarto da filha e, de forma quase autoritária, pediu que a filha colocasse de volta o vestido que saíra pela manhã. Precisaria estar bem apresentável naquele primeiro momento, comentou de forma indireta. Olhando para a mãe e nada dizendo (não contrariando a mãe), Isabel se preparou novamente. E logo depois se apresentou à mesa.
A conversa estava animada quando Isabel chegou à sala de jantar – fez-se silêncio, que foi quebrado pela apresentação da filha feita pelo pai aos convidados presentes. E foi nesse enredo que Isabel e Paulo – seu futuro esposo foram apresentados.
Isabel mal erguia a cabeça – era uma das primeiras vezes que se sentava à mesa com os convidados do pai (se eram realmente convidados).
O pai quebrou o gelo...
Dizem que qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência (conheces a história – ou não?). (09/07/2025)
CAPÍTULO 01 - ELA MARCOU DATA
O ano era 1915. Isabel Quitéria Floresta, jovem de 16 anos vinda da cidade de Belém (Pará) e agora residente na cidade de São Paulo, capital do Estado de São Paulo, que passava por uma rápida transformação, marcada pelo crescimento populacional e pela expansão urbana impulsionada pela cafeicultura e imigração, via-se acompanhada dos pais Davi e Madalena, missionários, e de dois irmãos bem mais velhos que ela: Daniel e Manoel - gêmeos, de 25 anos.
O intuito da família ao sair de Belém (Pará) eram dois: semear a 'palavra de Deus' e buscar melhores condições para a família. Na condição de missionários, os pais se integraram rapidamente a uma igreja: Comunidade Evangélica do Brasil. A integração foi rápida, sem muito questionamento – traziam carta de recomendação. Embora a igreja que frequentavam em Belém não existia ainda na cidade (ou próximo de onde residiam), sentiam-se bem congregados – foram bem acolhidos.
No segundo intuito, a família teve alguns entraves, mas com o auxílio de alguns membros da Comunidade Evangélica do Brasil, conseguiram destravar e começaram a erguer-se economicamente. Os pais foram trabalhar na Tecelagem Labor, os dois irmãos foram contratados pela Loja de Comércio Magna. Isabel ficou em casa – cuidava de tudo.
A família, por mais que tentasse, só conseguia ir ao culto de domingo – com raras exceções; Isabel era mais assídua: deixava o jantar pronto e dificilmente perdia o culto de quarta-feira. Ao acabar o culto, por volta das 21h30, um dos irmãos sempre a aguardava para voltar para casa. E voltavam conversando sobre a pregação do ministro Nobre que, ao pé das Escrituras Sagradas, levava o verdadeiro Evangelho de Cristo a membresia.
Isabel dedicava-se a estudar as Sagradas Escrituras, aprofundando o seu conhecimento (sabia que em pouco tempo poderia estar liderando os jovens – era uma das poucas que sabia ler e escrever). Além de saber ler e escrever como poucos, possuía em si um espírito aventureiro, de querer mais, de querer mais conhecimento.
Em menos de um ano boa parte da membresia da Comunidade Evangélica do Brasil já reconhecia o trabalho que Isabel vinha fazendo, porém algo ainda era preciso: o matrimônio. Para Isabel não era relevante, mas para os dirigentes sim, pois poderiam enviá-la – se casada - junto ao esposo para o 'campo missionário' (num futuro próximo porque 'A ceara é realmente grande, mas poucos os ceifeiros' – Mateus, 09:37).
Isabel continuou firme em seu propósito: estudando cada dia mais as Sagradas Escrituras e dela tirando o melhor proveito. Já auxiliava nos cultos para os jovens que, naquela ocasião, aconteciam aos domingos pela manhã.
Certa manhã de domingo, ao retornar do culto, achou estranho o movimento que estava acontecendo em sua casa. Ficou pensativa e apressou os seus passos...
Dizem que qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência (conheces a história – ou não?). (02/07/2025)