
PEDRO CÉSAR
PEDRO CÉSAR ALVES

ROMANCE - TEOLOGIA LIBERTÁRIA
Prezado Leitor, você terá contato semanalmente com um capítulo do romance 'A Teologia Libertária', do autor Pedro César Alves, voltado para a temática 'Teolóigica'.
Pedro César Alves é Professor de Língua Portuguesa, Literatura, Redação, Pós-Graduado em: Pedagogia, Gestão Educacional, Literatura Brasileira, Lit. Africana-Indígena-Latina, Gestão de Bibliotecas Públicas; Escritor (mais de 40 livros publicos, impressos e on-line), Jornalista e Editor do site 'Araçatuba e Região'; Fomentador Cultural; Pesquisador.
-- Acompanhe de perto o romance... "Teologia Libertária", às quartas-feiras.
Capítulo 7: PALAVRAS A MAIS
Estavam na metade do ano de 1920. Paulo, após a apresentação do sogro ao senhor de meia idade, de cabelos grisalhos, ficou cabisbaixo. Somente Isabel notou – e, quando chegaram na casa do sogro, de forma bem discreta, questionou o esposo sobre. Paulo explicou que a denominação que eles frequentavam no sul não admitia que frequentasse outra denominação religiosa. (Parecia que Paulo estava prevendo alguma coisa...)
Pretendiam ficar em São Paulo pelo menos quinze dias – e ficaram. E, por insistência da esposa, Paulo frequentava a igreja em que o sogro era ministro. Foi lhe dado, inclusive pelo sogro – e ele recusou – um dia para levar a mensagem. Ao cabo de dez dias a sogra questionou-o na mesa do jantar (que sempre era após o culto):
- Paulo, uma das minhas vizinhas disse que o seu nome foi apresentado para ser ministro do alto escalão em sua cidade, mas... – e parou a conversa...
Todos à mesa olharam imediatamente para dona Madalena esperando que ela completasse a fala... Como ela ficou quieta, um dos irmãos perguntou:
- Mas??? ...
- Não deveria falar...
- Mas já que começou, mulher, termine...
- É que ele foi apresentado, mas o senhor Jerônimo disse à esposa que houve uns votos contra...
- Como assim?
- Só porque ele está indo no culto aqui conosco!
- Só por isso????? Disseram os irmãos quase ao mesmo tempo.
- Só por isso! – repetiu a mãe.
O silêncio permaneceu por alguns minutos. Paulo, pediu licença, levantou-se e foi para o fundo da casa, para o quintal. E permaneceu olhando as estrelas por um bom tempo.
O sogro levantou-se para ir ao encontro do genro, mas Isabel pediu ao pai que não fosse naquele momento, que o deixasse pensar sobre oi assunto.
O pai sentou-se novamente, mas interrogou Isabel:
- Não estou entendendo, o Deus não é o mesmo?
- Eu espero que sim, pai... E também, como o senhor, fiquei surpresa!
Mais silêncio.
- Mãe, quem é o senhor Jerônimo?
- Isabel, é aquele senhor que o seu pai apresentou aquele dia a vocês...
- Aquele senhor de meia idade, cabelos já grisalhos?
- Sim...
Meia hora depois, todos já sentados na sala – em meio a um silêncio profundo que só era quebrado pelo funcionamento oculto dos neurônios, Paulo entrou na sala e pediu desculpas pelo acontecido.
Não precisa desculpas, Paulo, você não fez nada de errado. Eu que convidei você a ir ao culto onde eu sou ministro. Do meu ponto de vista, creio que o Deus é o mesmo, mas...
- Não sogro, é que...
Dizem que qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência (conheces a história – ou não?). (13/08/2025)
Capítulo 6: PALAVRAS DE CONVENCIMENTO
O ano era o início de 1920. Paulo simplesmente disse que nada dissera (que seria o oposto com Isabel: questionaria até a última letra, por assim dizer). Paulo era mais de ouvir, de fazer sem questionar (o que era o ideal para um bom obreiro), Isabel totalmente oposta.
Os dias foram passando e já estavam na metade do ano. Na maioria das denominações religiosas as grandes convenções ministeriais são realizadas nesta época do ano. E, por assim dizer, a cidade de São Paulo fervia de 'irmãos' de todos os cantos do país, e de países próximos. Era nesta época que seguiam para análise os nomes dos próximos que passariam a exercer cargos ministeriais.
Isabel convencera o marido a ir para São Paulo – estava com saudade dos pais, dos irmãos e, com toda certeza os irmãos estariam em casa nessa época do ano. Paulo pensou um pouco e concordou com a esposa. Se prepararam, avisaram os familiares e viajaram para a cidade de São Paulo.
A distância entre o sul do país – onde residiam – e a cidade de São Paulo, não era pequena: quase um dia de viagem. O ônibus, estranhamente ou não, estava com sua lotação máxima. No caminho foram muitas conversas trocadas entre os passageiros – apenas um senhor de meia idade, cabelos já grisalhos, sentado na poltrona da frente não ousava conversar.
A chegada a cidade de São Paulo foi saudada de bem-vinda por Isabel. E não era para menos – mais de dois anos e meio sem ver os pais e os irmãos – apenas algumas cartas que demoravam a chegar. A festa foi enorme quando entraram portão adentro. A mãe não se continha em lágrimas, o pai meio querendo-não-querendo chorar, os irmãos correram também para a festa, abraçando-a carinhosamente. (Sem falar que o cachorro também fez festa.)
A conversa foi até alta noite entre eles – Paulo, mais quieto, participava pouco da conversa. No outro dia foram andar um pouco pela redondeza e, à noite, o pai já havia recomendado a ida ao culto.
Isabel, toda alegre, mais alegre ainda estava em poder rever os irmãos da igreja que compartilhou por um bom tempo. Durante a tarde o coração de Paulo mostrava-se apertado – não gostaria de ir ao culto na igreja que o sogro ministrava, queria ir em sua denominação religiosa que já estava em quase todos os bairros da cidade.
Para não contrariar a esposa – nem ao sogro – foi ao culto. Sentou-se num banco próximo da porta lateral e ficou quietinho. No momento das 'oportunidades' o sogro o chamou e ele ia recusando, mas a esposa deu-lhe um cutucão, que o fez 'obedecer' ao chamado. Na vez de Isabel... o pai quase precisou pedir para ela parar de 'contar as maravilhas recebidas no sul' porque o relógio não espera...
Ao terminar o culto a festa foi grande, entre muitos abraços, seguiram para casa. Iam lentamente – a pressa não se tinha mais... encontraram o senhor de meia idade, cabelos já grisalhos. Este também carregava a bíblia e um outro volume – o de cânticos.
O pai de Isabel apresentou-o a eles, inclusive citando que o genro era da mesma denominação dele...
Dizem que qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência (conheces a história – ou não?). (06/08/2025)
Capítulo 5: PALAVRAS DE ISABEL
O ano era o início de 1920. Mesmo com todo estranhamento, Paulo recebeu-o alegremente com um 'beijo' – tradição do povo italiano, de alegria, e convidou-o a entrar. Ele disse que não era preciso, mas que precisava conversar com Paulo – convidando-o a tomar um café numa cafeteria próxima.
Paulo fez o comunicado a Isabel – que também estranhou...
Fechou a porta e saiu. Ambos caminharam silenciosamente até a cafeteria, e de forma interrogatória com o olhar Paulo questionou o ministro do alto escalão.
- Vou lhe fazer uma pergunta, irmão, e não quero que leve a mal.
- Sim, ministro, sem problema algum... Pode fazer.
- Conheço o irmão desde quando nasceu, cresceu entre nós e agora já homem feito. Casou-se em São Paulo e agora está entre nós há mais de dois anos... – e fez uma pausa.
Paulo continuava calado, de olhar interrogativo, aguardando o desfecho...
- E, como disse, há mais de dois anos conosco... e ainda não tem filhos...
Paulo, pego de surpresa, nada disse. O ministro do alto escalão apenas o encarou aguardando resposta.
Novamente, Paulo se mexeu na cadeira que estava sentado:
Vou dizer como a minha esposa sempre diz... 'quando Deus quiser nos dar um filho, será bem-vindo'.
- Então, me desculpe falar, precisamos orar a Deus sobre essa causa.
Paulo apenas balançou a cabeça – não sabemos se afirmativamente ou negativamente – mas dentro de si, já sabendo das falas da esposa, murmurou quase entre dentes 'só Deus que abre ou fecha a madre de uma mulher' – e completou em bom tom: 'Deus sabe o que faz, e faz na hora certa!'
O ministro do alto escalão, entre outras conversas, sugeriu que procurassem um médico especialista no assunto. A conversa se arrastou mais um pouco, mais outra xícara de café...
Ao sair, novamente o ministro do alto escalão pediu desculpas, e completou dizendo que era preciso ter tido aquela conversa com ele. Paulo nada entendeu no momento – se despediram ali mesmo.
Ao abrir o portão – Isabel imediatamente abriu a porta com o olhar interrogativo. Paulo não esperou a mulher interrogá-lo e foi dizendo o que o ministro do alto escalão perguntara.
Isabel olhou fixamente para Paulo e completou:
- Nós não termos filhos incomoda-os...
- Eu não me sinto incomodado, está nas mãos do Altíssimo!
Ficaram calados por alguns instantes e Paulo completou:
- O que mais me intrigou foi a fala dele em dizer que 'era preciso ter tido aquela conversa'...
- Como assim? Você não o questionou sobre 'era preciso ter tido aquela conversa'?
Dizem que qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência (conheces a história – ou não?). (30/07/2025)
Capítulo 4: PRÓXIMAS PALAVRAS
O ano era o início de 1920. Isabel Quitéria Floresta, jovem de 21, vinda da cidade de Belém (Pará), morou uma época em São Paulo, onde foi apresentada a Paulo, e dentro de um ano se casaram e há dois anos estão no sul do país.
As tentativas de Paulo não foram suficientes para trazer a mulher de volta aos trilhos – como costumavam dizer os mais velhos. Isabel estava cada vez mais questionadora sobre os princípios cristãos, sobre os princípios doutrinários da denominação religiosa que seguia junto ao marido.
Para Paulo, o que mais o deixava temeroso, era de a esposa dizer aos membros o que dizia a ele. A ele, como pensava, estava no particular, aos membros seria – ou daria – um grande escândalo. Isabel seria vista como uma mulher rebelde – poderiam dizer até que ela estava usando de 'heresias'. Paulo, à vista dos mais velhos, era tido como um futuro obreiro que ocuparia o mais alto cargo dentro da hierarquia religiosa (tinha tudo o que precisava um obreiro).
Entre as mais diversas conversas que mantinham, Paulo e Isabel nunca chegavam a um acordo, porém nunca deixavam as questões religiosas interferirem no relacionamento conjugal (o que, de certa forma, era um 'ponto positivo'). E numa dessas conversas... Ah! pobre Isabel, pobre Isabel! O marido levantou-se estupidamente do sofá e, de dedo em riste, disse:
- Como você ousa ser contra os princípios de nossa fé?
- Não sou contra os princípios, sou contra a falta de preparo de grande parte dos ministros... Você não vê o clero?
- E lá vem você com o clero... o que tem o clero a ver com a nossa fé?
- Ao mesmo tempo tem tudo, e ao mesmo tempo pode ter nada – depende do ponto de vista de quem observa. Eu fiz a comparação dizendo que o clero se prepara para estar onde está, os nossos ministros não possuem preparação alguma – com raras exceções, e, por vezes, dizem coisas que nem nas Sagradas Escrituras está escrito!
O marido olhou-a atentamente por alguns instantes. Deus os passos para trás e sentou-se novamente. Ficou um bom tempo examinando a esposa silenciosamente – depois, o seu olhar se perdeu no teto da casa.
Não se sabe por quanto tempo os pensamentos de Paulo divagaram na imensidão de 'palavras' que a esposa já lhe havia dito. Isabel o observava atentamente – conhecia já um pouco o esposo. Deixou-o na 'caixinha do tudo' pensando sobre o que haviam comentado. Sabia que tinha 'razão' – e o marido também sabia disso.
De repente, a campainha toca, Paulo é pego de surpresa com o som. Levanta-se quase ainda inerte em seus pensamentos e abre a porta. Era um ministro de sua igreja, do alto escalão, por assim dizer – o que causou estranhamento em Paulo...
Dizem que qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência (conheces a história – ou não?). (23/07/2025)
CAPÍTULO 03 - PRIMEIRAS PALAVRAS
Ainda era o ano de 1917. Isabel Quitéria Floresta, jovem de 18, vinda da cidade de Belém (Pará) estava frente a frente com o seu futuro esposo – Paulo. Foram apresentados no almoço e, querendo ou não, Isabel não tinha muito a escolher pelo aceitar ou não – os tempos eram outros.
No entanto, Isabel tinha a sua opinião sobre o futuro esposo – coisas de mulher, por assim dizer (mas guardava segredo a sete chaves, como se dizia em tempos antigos). Começaram a conversar durante os meses que se seguiram e, ao final do sexto mês – já mais familiarizados, Paulo 'pediu a mão de Isabel em casamento ao pai'.
Mesmo com a opinião 'velada' sobre o seu futuro, Isabel frente às palavras do pai, aceitou. E, seis meses depois, casava-se com Paulo – que era filhos de imigrantes italianos, cristãos, fundadores de uma igreja ao sul do país. E, não demorando muito dias após a celebração matrimonial, Isabel e Paulo seguiram para o sul.
Nesse contexto religioso patriarcal – agora em outra denominação religiosa (a do marido), tinha que se conter: não podia fazer nada do que tinha em mente, nada do que estudara. Sentia-se oprimida frente ao que, no momento, enfrentava.
Olhava para um lado, olhava para o outro e não via saída. Tinha, em casa, tudo que precisava: um esposo atencioso que não lhe deixava faltar nada – porém, em seu íntimo, tudo o que havia feito antes, todo o preparo que tinha se empenhado, não podia ser usado.
Tentava entender o que estava acontecendo com ela – e nada de compreender-se. Era uma busca sem fim, um resultado nada satisfatório. Já estava casada e no sul do país há dois anos – e nada de filhos (o que a deixava um pouco preocupada).
Na membresia havia sempre as 'irmãs do coque' que a questionavam sobre quando teria filhos e ela sempre dizia o mesmo 'quando Deus quiser dar' – o que já estava a irritá-la e no íntimo dizia a si mesmo 'sou eu Deus para abrir a minha própria madre?' – e os dias foram passando...
O tempo escorrendo entre os dedos – por assim dizer – Isabel sentia-se cada vez mais sozinha; cada vez 'encolhia-se' mais em si. Mesmo o esposo indo contra o que sempre procurava estudar, Isabel sempre se mantinha à frente do seu tempo em seus estudos. E, com isso, começou a observar de 'mais perto' a doutrina religiosa que estava seguindo junto com o marido e, às vezes, o questionava – o que não era bem-visto por ele.
Para Isabel, a doutrina estava não muito certa – assim como também falava da doutrina que a igreja de seus pais pregava. Por parte do marido, de forma quase imperceptível, a via como uma mulher 'rebelde' perante a igreja - mesmo que a ele sempre estava a servir. Aos poucos foram conversando e Paulo tentava diariamente fazê-la entender os 'tais mistérios de Deus'.
Dizem que qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência (conheces a história – ou não?). (16/07/2025)
CAPÍTULO 02 - DATA MARCADA
O ano era 1917. Isabel Quitéria Floresta, jovem de 18, vinda da cidade de Belém (Pará) e agora residente há dois anos na cidade de São Paulo, capital do Estado de São Paulo, estava com os passos apressados – o que será que estava acontecendo em sua casa? Alguém doente? Alguma outra coisa para várias pessoas estarem ali?
No portão da casa, ouviu alguém falando alto:
- Olha aí que ela vem chegando...
Então o assunto não era os outros, era ela? Ficou mais intrigada ainda. Fez os cumprimentos aos que ali a esperavam, e que já conhecia – por assim dizer, e foi direto questionar a mãe sobre o que estava acontecendo. A mãe pediu calma que contaria tudo.
Após ficar a par do assunto, balançou a cabeça (agora não se sabe se foi em sinal de aprovação ou de reprovação). Entrou para dentro do seu quarto e foi – como de costume, colocar uma roupa do dia a dia. (Costumava dizer que roupas de ir ao culto, eram de ir ao culto; as de ficar em casa, de ficar em casa – e assim conservava as roupas.)
A mãe estava atarefada com a finalização do almoço – porque teria a visita de alguns ministros do Evangelho naquele dia, entre eles estaria um pretende da mão de sua filha. Para a família ter uma filha 'casada' com um ministro seria uma honra enorme – por isso o almoço merecia o maior capricho.
Por outro lado, a mãe conhecendo um pouco a filha, ficou pensativa: Isabel não mostrou vislumbre algum, mas também não deixou de demonstrar. E aqui ficava a preocupação da mãe. Satisfeita com a ideia ou insatisfeita? E, ainda pensando sobre o assunto, sobre as expectativas que o marido tinha sobre aquele 'encontro', ficou mais pensativa ainda. Isabel não era uma pessoa fácil de se lidar; não admitia imposições; era uma mulher – embora jovem, muito esforçada, que trabalhava pesado para manter a casa toda arrumada. Talvez sonhadora! Sonhadora!
O almoço ficou pronto e logo depois os convidados foram chegando – convidados ou não, não é possível saber dos acertos que aconteceram por trás de toda a trama do dia.
A mãe de Isabel dirigiu-se ao quarto da filha e, de forma quase autoritária, pediu que a filha colocasse de volta o vestido que saíra pela manhã. Precisaria estar bem apresentável naquele primeiro momento, comentou de forma indireta. Olhando para a mãe e nada dizendo (não contrariando a mãe), Isabel se preparou novamente. E logo depois se apresentou à mesa.
A conversa estava animada quando Isabel chegou à sala de jantar – fez-se silêncio, que foi quebrado pela apresentação da filha feita pelo pai aos convidados presentes. E foi nesse enredo que Isabel e Paulo – seu futuro esposo foram apresentados.
Isabel mal erguia a cabeça – era uma das primeiras vezes que se sentava à mesa com os convidados do pai (se eram realmente convidados).
O pai quebrou o gelo...
Dizem que qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência (conheces a história – ou não?). (09/07/2025)
CAPÍTULO 01 - ELA MARCOU DATA
O ano era 1915. Isabel Quitéria Floresta, jovem de 16 anos vinda da cidade de Belém (Pará) e agora residente na cidade de São Paulo, capital do Estado de São Paulo, que passava por uma rápida transformação, marcada pelo crescimento populacional e pela expansão urbana impulsionada pela cafeicultura e imigração, via-se acompanhada dos pais Davi e Madalena, missionários, e de dois irmãos bem mais velhos que ela: Daniel e Manoel - gêmeos, de 25 anos.
O intuito da família ao sair de Belém (Pará) eram dois: semear a 'palavra de Deus' e buscar melhores condições para a família. Na condição de missionários, os pais se integraram rapidamente a uma igreja: Comunidade Evangélica do Brasil. A integração foi rápida, sem muito questionamento – traziam carta de recomendação. Embora a igreja que frequentavam em Belém não existia ainda na cidade (ou próximo de onde residiam), sentiam-se bem congregados – foram bem acolhidos.
No segundo intuito, a família teve alguns entraves, mas com o auxílio de alguns membros da Comunidade Evangélica do Brasil, conseguiram destravar e começaram a erguer-se economicamente. Os pais foram trabalhar na Tecelagem Labor, os dois irmãos foram contratados pela Loja de Comércio Magna. Isabel ficou em casa – cuidava de tudo.
A família, por mais que tentasse, só conseguia ir ao culto de domingo – com raras exceções; Isabel era mais assídua: deixava o jantar pronto e dificilmente perdia o culto de quarta-feira. Ao acabar o culto, por volta das 21h30, um dos irmãos sempre a aguardava para voltar para casa. E voltavam conversando sobre a pregação do ministro Nobre que, ao pé das Escrituras Sagradas, levava o verdadeiro Evangelho de Cristo a membresia.
Isabel dedicava-se a estudar as Sagradas Escrituras, aprofundando o seu conhecimento (sabia que em pouco tempo poderia estar liderando os jovens – era uma das poucas que sabia ler e escrever). Além de saber ler e escrever como poucos, possuía em si um espírito aventureiro, de querer mais, de querer mais conhecimento.
Em menos de um ano boa parte da membresia da Comunidade Evangélica do Brasil já reconhecia o trabalho que Isabel vinha fazendo, porém algo ainda era preciso: o matrimônio. Para Isabel não era relevante, mas para os dirigentes sim, pois poderiam enviá-la – se casada - junto ao esposo para o 'campo missionário' (num futuro próximo porque 'A ceara é realmente grande, mas poucos os ceifeiros' – Mateus, 09:37).
Isabel continuou firme em seu propósito: estudando cada dia mais as Sagradas Escrituras e dela tirando o melhor proveito. Já auxiliava nos cultos para os jovens que, naquela ocasião, aconteciam aos domingos pela manhã.
Certa manhã de domingo, ao retornar do culto, achou estranho o movimento que estava acontecendo em sua casa. Ficou pensativa e apressou os seus passos...
Dizem que qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência (conheces a história – ou não?). (02/07/2025)